Friday 21 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (8)

ANTECEDENTES (2)

A AFL

Uma área onde são visíveis raízes da Caça às Bruxas organizada por Joseph MacCarthy é a área sindical: a poderosa central sindical AFL foi, então - e continua a sê-lo hoje, embora de forma diferente - um dos muitos instrumentos utilizados na perseguição aos «vermelhos»...

Fundada em 1881, a AFL começou por ser uma verdadeira representante dos trabalhadores com o que adquiriu uma influência e uma força notáveis.
Ela encabeçou a luta pelas oito horas de trabalho, no decorrer da qual se realizaram milhares de greves e de manifestações diversas, sempre brutalmente reprimidas - inclusive com o assassinato dos «mártires de Chicago», em 1 de Maio de 1886, que viria a dar origem ao Dia Internacional dos Trabalhadores.

Mas o grande capital não dormia - aliás, nunca dorme... - e através de um vasto plano - que incluiu infiltrações nos sindicatos, compra e suborno de sindicalistas e medidas repressivas do mais variado tipo - logrou liquidar o conteúdo de classe e democrático do movimento sindical.
Assim, quando em 1898, com a Guerra Hispano-Americana (que marcou o nascimento dos EUA como grande força militar e de ocupação) os EUA ocuparam e anexaram Cuba, Haiti, Porto Rico, Filipinas, a AFL aplaudiu e apoiou...

Não surpreende, assim, que a partir de 1917 a acção da AFL se tenha virado para o anticomunismo e, uma coisa leva à outra, para a traição aos direitos e interesses dos trabalhadores: ao mesmo tempo que defende o envio de tropas norte-americanas para esmagar a Revolução de Outubro, a AFL renega e rejeita a luta de classes e as greves; apoia e colabora com as forças policiais na repressão aos trabalhadores em greve; inclui a «acção anticomunista» nos seus estatutos.
E esmaga a oposição interna entretanto surgida, através de uma autêntica... caça às bruxas: milhares de sindicalistas honestos são acusados de «comunistas» ou de «suspeitos» de o serem, denunciados à polícia e presos.
Por outro lado, o racismo passa a integrar os «princípios» da AFL, que defende a exclusão dos negros do mercado de trabalho e de sócios dos sindicatos. Como justificava um alto dirigente da AFL, «não queremos admitir como membros o rebotalho, os que não prestam para nada».

Paralelamente a estas orientações, os dirigentes vendidos da AFL proclamam o fim da contratação colectiva e a sua substituição pela negociação individual e o fim das greves e a sua substituição pela negociação pacífica e civilizada entre dirigentes sindicais e patrões - que fundamentavam assim: «o patrão dirige a empresa e o líder sindical dirige as negociações com o patrão» - logo acrescentando que, «para isso, os líderes sindicais devem ser bem remunerados». E eram.

Entretanto, e não podendo travar o forte ascenso da luta da aguerrida classe operária norte-americana, esses dirigentes da AFL desempenhavam o seu papel de bufos colaboradores das forças repressivas.
Vive-se, então, um tempo de fortes lutas operárias, em que a repressão recrudesce, e em que se sucedem os casos de sindicalistas «desaparecidos»...
É o tempo da prisão de Sacco e Vanzetti, e do miserável processo a que foram submetidos e que viria a terminar com a execução de ambos, em 1927.
É um tempo decisivo na construção da «democracia» norte-americana...

Com a crise de 1929 e a explosão do desemprego que se lhe seguiu, a AFL, para impedir o forte movimento grevista, faz um negócio com a Máfia - negócio que viria a revelar-se altamente rentável para ambas as partes: por um lado, as sedes da AFL passam a funcionar como centros de organização dos negócios da máfia; por outro lado, e em troca, os mafiosos liquidam os sindicatos que apelam à greve.
Neste caso, qual o significado de liquidar?
Foi assim: sedes de sindicatos foram assaltadas por grupos mafiosos armados, os quais expulsaram e assassinaram dirigentes sindicais, substituindo-os, eles próprios, os mafiosos, nas direcções dos respectivos sindicatos - de tal forma que, a curto prazo, a Máfia tinha o controlo de elevado número de sindicatos e homens da Máfia passaram a integrar a direcção executiva da AFL...
É conhecida a declaração de Al Capone, justificando os crimes cometidos pelos seus homens contra os sindicalistas: «É preciso manter os trabalhadores afastados da literatura vermelha e do perigo comunista».