sim podes regressar
apesar de não teres partido
esta é a última viagem
dos amantes perdidos
pode durar para sempre
nunca navegará duas vezes a mesma onda.
Miguel Tiago
sim podes regressar
apesar de não teres partido
esta é a última viagem
dos amantes perdidos
pode durar para sempre
nunca navegará duas vezes a mesma onda.
Miguel Tiago
Se não puderes ser um pinheiro, no topo da colina,
Sê um arbusto no vale — mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um arbusto, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um arbusto, sê um pouco de relva,
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser almíscar, sê, então, apenas uma tília —
Mas a tília mais viva do lago!
Não podemos ser todos capitães; temos que ser tripulação.
Há algo para todos nós aqui.
Há grandes e pequenas obras a realizar,
E é a próxima a tarefa que devemos empreender.
Se não puderes ser uma estrada, sê apenas uma senda.
Se não puderes ser Sol, sê uma estrela;
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso —
Mas sê o melhor do que quer que sejas!
Douglas Malloch
regresso a casa pela porta dos fundos
para não dar pela chegada
que é como quem acaba por não dar pela saída
nem os cães ladram nem a caravana passa
e as labaredas do sossego descem pelas paredes
como um aconchego
que banalidade essa a da casa
do lar
onde miam todos os gatos que importam no mundo
e encaixam as almas nos corpos
para por fim meditarem as virtudes e os pecados de mãos dadas
caminhando pelo álamo da consciência
e seguirem sem deslizar para as bermas
em que rastejam os animais que vivem de solidão.
Miguel Tiago
em quantas paredes
de quantas casas
pintaste o teu nome com o sangue de quem lá mora
em quantas muralhas
abriste a fenda da derrota
quantos milhares de gotas de chuva
morreram às tuas mãos
por teres a garganta seca
por ires por essa noite afora
na treva unida e límpida
de archote aceso ao vento
ofegante e ligeiro com os pés descalços
pelo ladrilho molhado
como quem grita ao mundo
que está aqui.
Miguel Tiago
Éramos cinquenta mil
a desfilar por Abril
- ali, na rua,
a afirmar o que se ouviu:
«agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu»
Éramos cinquenta mil
a desfilar por Abril
- ali, na rua,
cada um mostrando,
bem à vista,
o cartão de militante comunista.
Éramos cinquenta mil
a desfilar por Abril
- ali, na rua,
a explicar
o sentido e os porquês
de sermos
o Partido Comunista Português.
Éramos cinquenta mil
a desfilar por Abril
- ali, na rua,
a garantir
que a luta continua.
Fernando Samuel
1.3.2008
no inverno
as rochas voltam à placenta do musgo
a respiração vê-se ao longe
e nada reveste o coração.
Miguel Tiago