Wednesday 30 March 2011

APÊNDICE À «CARTILHA DE GUERRA»



(por baixo de uma fotografia de Hitler)


Esse que aí está, esteve quase a governar o mundo.
Mas os povos dominaram-no. No entanto
desejaria não ouvir o vosso triunfante canto:
O ventre, donde este saíu, ainda é fecundo.


Bertold Brecht

Sunday 27 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû

Para quê conquistar mercados para os produtos
que os operários fabricam?
Os operários
ficariam com eles de bom grado.


Bertold Brecht

Thursday 24 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû

Os que vão envelhecendo
metem o dinheiro nas caixas económicas.
Diante das caixas económicas estão carros.
Levam o dinheiro
p'rás fábricas de munições.


Bertold Brecht

Monday 21 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû

O pintor de tabuletas diz:
quantos mais canhões se fundirem
mais tempo haverá de paz.

Sendo assim dir-se-ia:
quanto mais grão se deitar à terra
menos trigo crescerá.
Quantas mais vitelas se abaterem
menos carne haverá.
Quanta mais neve derreter nos montes
mais baixos os rios serão.


Bertold Brecht

Friday 18 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû

As raparigas à sombra das árvores da aldeia
escolhem os namorados.
A morte escolhe também.

Talvez
nem sequer as árvores fiquem com vida.


Bertold Brecht

Tuesday 15 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû


É noite. Os casais
vão deitar-se nas camas. As mulheres novas
vão parir órfãos.


Bertold Brecht

Saturday 12 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû


General, o teu tanque é um carro forte.
Arrasa um bosque e esmaga centos de homens.
Mas tem um defeito:
precisa de um condutor.

General, o teu bombardeiro é forte.
Voa mais rápido que uma tempestade e carrega mais que um elefante.
Mas tem um defeito:
precisa de um mecânico.

General, o homem é muito hábil.
Sabe voar e sabe matar.
Mas tem um defeito:
sabe pensar.


Bertold Brecht

Wednesday 9 March 2011

POR MAIS QUE CALEM...


Por mais que calem
por mais voltas que dê o mundo
por mais que neguem os acontecimentos;
por mais repressão que o estado instaure;
por mais que lavem a cara com a democracia burguesa;
por mais assassinatos de estado que cometam e calem;
por mais greves da fome que silenciem;
por mais que tenham saturados os cárceres;
por mais pactos que engendrem os controladores de classe;
por mais guerras e repressão que imponham;
por mais que tentem negar a história e a memória da nossa classe

Mais alto diremos:
assassinos de povos
miséria de fome e liberdade
negociadores de vidas alheias
mais alto do que nunca, em grito ou em silêncio,
recordaremos os vossos assassinatos
de gentes, vidas, povos e natureza.
De boca em boca, passo a passo, pouco a pouco.


Salvador Puig Antich
(poema escrito na cela por este jovem anarquista
pouco antes de ser assassinado pelo regime franquista,
em 2 de Março de 1974)

Sunday 6 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû



O PINTOR DE TABULETAS FALA DE GRANDES TEMPOS FUTUROS.

As florestas crescem ainda.
Os campos dão frutos ainda.
As cidades estão de pé ainda.
Os homens respiram ainda.


Bertold Brecht

Thursday 3 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû


Os de cima dizem: no exército
reina a comunhão do povo.
Se é verdade ou não, ficais a sabê-lo
na cozinha.

Nos corações deve
haver a mesma coragem. Mas
nas marmitas há
comer de duas espécies.


Bertold Brecht


Tuesday 1 March 2011

DA «CARTILHA DE GUERRA ALEMû



Não vamos agora discutir
se explorámos o poder quando o tínhamos.
Agora já não temos o poder.

Não vamos agora falar
sobre se isto vai sem violência.
Agora foi a violência que nos derrubou.


Bertold Brecht