Wednesday 12 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (5)

A DIGNIDADE DE DASHIEL HAMMETT

Dashiel Hammett - o criador do policial negro - foi (é) um dos maiores escritores norte-americanos.
Quando MacCarthy mandou retirar de todas as bibliotecas públicas dos EUA «30 mil livros escritos por comunistas e simpatizantes», os livros de Hammett encontravam-se, naturalmente, entre os banidos...

Hammett era membro do Partido Comunista dos EUA e Presidente do Congresso dos Direitos Civis de Nova Iorque, organização comunista muito activa no apoio e na solidariedade às organizações a activistas de esquerda.

No processo da Caça às Bruxas, Dashiel Hammett foi submetido a três longos e cerrados interrogatórios: o primeiro, em Julho de 1951; os dois restantes, em Março de 1953.
Passou vários meses numa prisão de alta segurança, onde foi tratado como se fosse um terrível criminoso - e onde lhe foi atribuída a tarefa de limpar as retretes...

Sabia-se que, nesses interrogatórios, Hammett destroçara os inquisidores - entre eles o próprio MacCarthy - com a sua inabalável recusa em prestar declarações, fosse sobre o que fosse.
Mas só agora - com a publicação dos relatos integrais desses interrogatórios (Dashiel Hammett/Interrogatoires, Editions Allia, Paris, 2009) - se ficou a conhecer, com rigor, o que foram aquelas alucinantes sessões.

Estes «Interrogatoires» são um documento notável que nos mostra como, à demência persecutória, ameaçadora e repressiva das bestas, Hammett contrapôs a sua corajosa e serena dignidade.
Na verdade, Hammett recusou responder a tudo, inclusive a questões cujas respostas não o incriminariam mesmo na óptica dos fanáticos inquisidores.

Mais tarde, quando a sua companheira - Lillian Helmann, também militante comunista e também na «lista negra» - lhe perguntou por que não tinha respondido a essas coisas que eram do conhecimento público e que não o incriminariam, Dashiel Hammett respondeu simplesmente:

«Só sei que tinha que fazer o que fiz. Por uma questão de princípio. Mesmo que as consequências disso não fossem apenas a cadeia e implicassem a perda da própria vida, eu teria feito o mesmo».