apenas à noite.
o branco revela a sua verdadeira cor
e é negra.
como as asas alvas de um anjo,
tingidas pela vida escura dos mortos,
da qual caem penas de breu, lenta e inexoravelmente
como de uma ferida aberta o sangue.
Miguel Tiago
apenas à noite.
o branco revela a sua verdadeira cor
e é negra.
como as asas alvas de um anjo,
tingidas pela vida escura dos mortos,
da qual caem penas de breu, lenta e inexoravelmente
como de uma ferida aberta o sangue.
Miguel Tiago
o verdadeiro poeta dos meus dias
escolhe as palavras como um crivo
dentre as páginas imensas do dicionário,
o verdadeiro poeta dos meus dias
faz dos versos flores vazias
tanto quanto as rosas eternas que ornam um campanário,
o verdadeiro poeta dos meus dias
usa o mais inaudito e inescrito verbo
e mascara assim o ego ordinário,
o verdadeiro poeta dos meus dias
matou as torrentes, calou os ventos,
e vive nesse estreito gabinete de ar condicionado,
à espera que as palavras lhe surjam caras,
requintadas, despojadas de ira, amor ou ironia.
o verdadeiro poeta dos meus dias
versa em rimas sobre os clássicos,
brada aos céus, ou aos amores,
menos à terra, terrena e rente
como uma erva daninha, feia e raquítica.
o verdadeiro poeta dos meus dias
silenciou os choros e os gritos,
trouxe hipérboles mestástases sinédoques metonímias
e outras ilusões.
e eis que na busca pretensiosa de o não ser,
me infectam os poetas de hoje,
me contagiam os versos,
e os pulmões.
Miguel Tiago
se o caminho não fosse duro e difícil, as nossas mãos não seriam tão fortes.
Miguel Tiago