Saturday 30 December 2023

revelação


Wednesday 27 December 2023

- se -

se hoje fosse o último dia
chorava uma lágrima
que rolava enquanto, à distância
na curva, te perdia.

se hoje fosse a última noite,
mais não me restaria
além do sorriso desprendido,
mas tão sem-sentido. 
 
Miguel Tiago

Sunday 24 December 2023

- sem título -

na relva húmida
os pés descalços. 
 
Miguel Tiago

Thursday 21 December 2023

assalto

deito mãos ao céu que assalto,
contigo braços levantados,
ascenderemos à vida
que nos quiseram roubar. 
 
Miguel Tiago

Monday 18 December 2023

UMA FATIA DE PÃO...


Uma fatia de pão,
um pedaço de toucinho,
um punhado de azeitonas
e um copo de vinho azedo,
são ao que chega o salário
que aos jornaleiros se paga
pelo que comem os ricos
às suas mesas repletas.

Armindo Rodrigues

Friday 15 December 2023

- sem título -

e, porém, o vazio liberta
como asas.
podes vaguear por todas
as ruas e as casas.

ou fingir-te ser e, pouco a pouco,
apenas morrer.  

Miguel Tiago

Tuesday 12 December 2023

- sem título -

sinto sempre a tua falta quando acordo,
e da prisão de amar-te
que me priva da liberdade. 
 
Miguel Tiago

Saturday 9 December 2023

vícios

viciei-me em cigarros depois de amar,
em vinho ao jantar,
viciei-me em comprimidos para dormir,
em cerveja para poder rir,

viciei-me no céu nublado e nos raios de luz que me fazem chorar,
viciei-me nas árvores que cobrem o manto alpino da serra
nas noites sem luar,
nas praias sem mar. 
 
Miguel Tiago

Wednesday 6 December 2023

salvation

cleansing my sins
forever have I been
waiting salvation on my knees,
drinking your blood, sacred flesh
kissing my lips,
and though I perish,
I will never leave the flock,
for I am impriosioned between the walls
of the quarter's parish.  

Miguel Tiago

Sunday 3 December 2023

versus

deixei para trás o julgamento
com ele o pensamento
deixei para trás as dores
com elas o contentamento. 
 
Miguel Tiago

Friday 1 December 2023

os sonhos

ao longo do corredor estreito
comprimo-me e sonho contigo
num quarto de hotel com a luz a raiar p'la janela
em traços oblíquos de tinta rasgando o fumo
do cigarro denso que espessa o ar.

na porta do quarto número tal,
olhando para um lado e depois o outro,
bato os nós dos dedos e fulmina-me uma ferida
que o passado me cravou sem cicatriz à vista.

e o sonho esvai-se
quando o teu sorriso afinal é um grito. 
 
Miguel Tiago