Tuesday 18 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (7)

ANTECEDENTES

Assumindo o risco de abusar da paciência dos visitantes do Cravo de Abril, dedicarei ainda três posts ao tema Caça às Bruxas: dois registando acontecimentos e situações que antecederam a operação e o último para fazer um breve balanço de todo o processo.

Como é evidente, a Caça às Bruxas não surgiu do nada nem é apenas uma iniciativa desgarrada levada a cabo pelo anticomunista paranóico Joseph MacCarthy.
Repetindo: a operação insere-se na brutal ofensiva anticomunista desencadeada nos EUA logo após o triunfo da Revolução de Outubro.
O facto de, pela primeira vez na história, a classe operária ter conquistado o poder num país, ter construído o primeiro Estado proletário do mundo e ter iniciado a construção de uma sociedade nova, liberta da opressão e da exploração, socialista - este facto aterrorizou o grande capital internacional.
E todos os recursos, meios e métodos foram requisitados para a ofensiva visando liquidar à nascença a jovem revolução e impedir a propagação do seu exemplo noutros países.

O Partido Comunista dos EUA - criado em 1920 - foi, naturalmente, o alvo primeiro e principal dessa ofensiva.
Sob pretextos vários, os militantes comunistas eram perseguidos e presos: «o perigo vermelho» passou a ser tema diário nos média, acompanhado das inevitáveis «informações» sobre as «injecções atrás da orelha», as «criancinhas devoradas ao pequeno almoço» e outros argumentos semelhantes...

Por essa altura, as técnicas de propaganda sofrem um poderoso impulso nos EUA: «controlar as massas e fabricar consentimento» é o objectivo traçado.
Dito de outra forma: de acordo com os mecanismos da democracia norte-americana, «o país deve ser dirigido por uma elite de cidadãos»; os outros «têm apenas de ficar sossegados e concordar», e «para que isso aconteça, é necessário controlar o que eles pensam e arregimentá-los como soldados» - pelo que «controlar a opinião pública e assegurar que os cidadãos fiquem afastados da vida pública», é a grande questão...
Dito ainda de uma outra forma: não se trata de saber se a nossa democracia é perfeita: o que é necessário é que a maioria acredite que ela é perfeita e aja em conformidade com essa crença...
Há que reconhecer que tais técnicas de propaganda registaram assinaláveis (e dramáticos) êxitos, não apenas nos EUA mas praticamente em todo o mundo.

Em 29 de Junho de 1940, o Congresso dos EUA aprovou uma lei (Alien Registration Act) que proibia a manifestação de ideias pondo em causa o governo ou defendendo outro sistema que não fosse o capitalismo dominante...
A mesma lei, obrigava a que todos os estrangeiros com mais de 14 anos residentes nos EUA fizessem uma declaração com o registo das suas convicções políticas...
Obviamente, o não cumprimento da lei era considerado um «acto antipatriótico»...

Estava lançada a ofensiva «legal» contra o PCEUA e contra todas as organizações de esquerda.
De imediato foi lançada uma vasta operação de busca de «pessoas suspeitas de antipatriotismo» - que o mesmo era dizer: de «vermelhos»...

Pouco depois, onze dirigentes do PC foram presos e, após um julgamento que se arrastou por vários meses, foram condenados a pesadas penas de prisão.
Logo a seguir, são presos cerca de cinquenta militantes comunistas... - e por aí fora, numa escalada que seria atenuada durante a II Guerra Mundial mas que irromperia, brutal, logo que o nazi-fascismo foi derrotado e o prestígio da União Soviética corria mundo.

Este caldo de cultura intolerante e anticomunista é, então, um antecedente da Caça às Bruxas dirigida por MacCarthy.
E é de toda uma ininterrupta sucessão de factos semelhantes, ocorridos ao longo dos tempos e até aos dias de hoje, que é feita a democracia dos EUA...