depenei para quase sempre o maço de tabaco
na ressaca deste chuto nas veias do infinito
resta-me um último cigarro
a que puxarei lume
com a ponta do cérebro que me resta
muitos gatos
ao redor do eclipse
e uma chama ondulando numa bandeira
à beira do mar
nas mãos de uma criança de olhos vadios
joelhos rotos
e ganas de comandar um exército
capaz de marchar sobre as ondas
em noites de vendaval
guerreiros que nos resgatam
dos túmulos onde morremos.
aguarda que o pó e a pele
abandonem o tempo
para não restar
no que comes,
vestígio das mãos sujas
e quando não chega o tempo
a escola ensina quão moderno
é o mundo da internet
e as televisões apagam a luz
para adormeceres acordado
e das crianças-nada
escravos-nada
homens-nada
mulheres-nada
já ninguém se pergunta
a não ser essa galáxia de gente-nada
que é a maioria.
todos os dias uma lua cheia
todos os dias cento e doze marés
vinte e oito pores-do-sol
cinquenta e seis voltas do ponteiro das horas
dois milhões de batimentos cardíacos
e todas as lagartas do mundo a sair do casulo de asas abertas porque as células imaginais ganharam todas as batalhas travadas.