a casa abandonou-me, vazia. e os lençóis tremem de frio nas mais quentes noites de verão. frio ou solidão.
já nada habita o interior e apenas o verde das plantas na varanda
lembram, ainda que remotamente, alguém. ou a projecção da sua sombra no
vidro fosco da porta da sala, porque ao vento, ligeiramente, ondulam e
agitam as pequenas folhas.
resta-me um último refúgio, onde ainda respiro, como se de lá pudesse
sorver o oxigénio que me leva a ausência, ainda que em doses curtas. é a
gaveta esquerda, a mais próxima da minha cabeça e a única onde deixaste
o que quer que seja.
Miguel Tiago