Monday 30 March 2020

Animal cansado

Quiero un amor feroz de garra y diente
Que me asalte a traición en pleno día,
Y que sofoque esta soberbia mía,
Este orgullo de ser todo pudiente.
Quiero un amor feroz de garra y diente
Que en carne viva inicie mi sangría,
A ver si acaba esta melancolía
Que me corrompe el alma lentamente.
Quiero un amor que sea una tormenta,
Que todo rompe y lo remueve todo
Porque vigor profundo la alimenta.
Que pueda reanimarse allí mi lodo,
mi pobre lodo de animal cansado,
Por viejas sendas, de rodar, hastiado.
Alfonsina Storni

Friday 27 March 2020

Mataram a Tuna

Nos Domingos antigos do bibe e pião 
saía a Tuna do Zé Jacinto
tangendo violas e bandolins
tocando a marcha Almadanim.

Abriam janelas meninas sorrindo
parava o comércio pelas portas
e os campaniços de vir à vila
tolhendo os passos escutando em grupo.
Moços da rua tinham pé leve.
o burro da nora da Quinta Nova
espetava orelhas apreensivo
Manuel da Água punha gravata!
Tudo mexia como acordado
ao som da marcha Almadanim
cantando a marcha Almadanim.

Quem não sabia aquilo de cor?
A gente cantava assobiava aquilo de cor...
(só a Marianita se enganava 
ai só a Marianita se enganava
e eu matava-me a ensinar...)
que eu sabia de cor
inteirinha de cor
e para mim domingo não era domingo
era a marcha Almadanim!

Entanto as senhoras não gostavam
faziam troça dizendo coisas
e os senhores também não gostavam
faziam má cara para a Tuna:
- que era indecente aquela marcha
parecia até coisa de doidos:
não era música era raiva
aquela marcha Almadanim.

Mas Zé Jacinto não desistia.
Vinha domingo e a Tuna na rua
enchendo a rua enchendo as casas.
Voavam fitas coloridas
raspavam notas violentas
rasgava a Tuna o quebranto da vila
tangendo nas violas e bandolins
a heróica marcha Almadanim!

Meus companheiros antigos do bibe e pião
agora empregados no comércio
desenrolando fazenda medindo chita
agora sentados
dobrados nas secretarias do comércio.
cabeças pendidas jovens-velhinhos
escrevendo no Deve e Haver somando somando
na vila quieta
sem vida
sem nada
mais que o sossego das falas brandas...
- onde estão os domingos amarelos verdes 
azuis encarnados
vibrantes tangidos bandolins fitas violas gritos
da heróica marcha Almadanim?!

Ó meus amigos desgraçados
se a vida é curta e a morte infinita
despertemos e vamos
eia!
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era a Tuna do Zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim!
Manuel da Fonseca

Tuesday 24 March 2020

Coro dos cornudos

Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro. Coplas dedicadas às fogosas e vampirescas mulheres da Beira, de quem já Abel Botelho disse o que disse.

Monólogo do 1.º cornudo

Acordei num triste dia
Com uns cornos bem bonitos.
E perguntei à Maria
Por que me pôs os palitos.

Jurou por alma da mãe
Com mil tretas de mulher
Que era mentira. Também
Inda me custava a crer...

Fiquei de olho espevitado
Que o calado é o melhor
E para não re-ser enganado,
Redobrei gozos de amor.

Tais canseiras dei ao físico,
Tal ardor pus nos abraços
Que caí morto de tísico
Com o sexo em pedaços!

Esperava por isto a magana?
Já previa o que se deu?...
Do além vi-a na cama
Com um tipo pior que eu!

Vi-o dar ao rabo a valer
Fornicando a preceito...
Sabia daquele mister
Que puxa muito do peito.

Foi a hora de me eu rir
Que a vingança tem seus quês:
«O mais certo é práqui vir,
Inda antes que passe um mês».

Arranjei-lhe um bom lugar
Na pensão de Mestre Pedro
(Onde todos vão parar
Embora com muito medo...)

Passava duma semana
O meu dito estava escrito
Vítima daquela magana
Pobre tísico, tadito!

Dueto dos 2 cornudos

Agora já somos dois
A espreitar de cá de cima
Calados como dois bois
Vendo o que faz a ladina

Meteu na cama mais gente
Um, dois, três... logo a seguir!
Não há piça que a contente
É tudo que tiver de vir!

S. Pedro, indignado, pragueja

- É de mais!... Arre, diabo!
- Berra S. Pedro, sandeu.
- E mortos por dar ao rabo
Lá vêm eles pró Céu!

Coro, pianíssimo, lirismo nas vozes

Que morre como um anjinho
Quem morre por muito amar!

Coro, agora narrativo ou explicativo

Já formamos um ranchinho
De cá de cima, a espreitar.

Àparte do autor das coplas: «Coitadinhos!»

Passam meses, passa tempo
E a bela não se consola...
Já semos um regimento
Como esses que vão prá Ingola!

Fazemos apostas lindas
Sempre que vem cara nova.
Cálculos, medidas infindas
Como ela terá a cova.

Há quem diga que por si
Já não lhe topou o fundo...
Outros juram que era assim
Do tamanho... deste Mundo!

- Parecia uma piscina!
- Diz um do lado, espantado.
- Nunca vi uma menina
Num estado tão desgraçado!

Àparte do autor, antigo militante das esquerdas (baixas)

(Um estado tão desgraçado?!...
Pareceu-me ouvir o Povo
Chorando seu triste fado
nas garras do Estado Novo!)

O último que chegou cá
Morreu que nem um patego:
Afogado, ieramá,
Nos abismos daquele pego.

O coro dos cornudos, acompanhado por S. Pedro em surdina,
entoa a moralidade, após ter limpado as últimas lagrimetas
e suspirando como só os cornudos sabem

Mulher não queiras sabida
Nem com vício desusado,
Que podes perder a vida
Na estafa de dar ao rabo.

Escolhe donzela discreta
Com os três no seu lugar.
Examina-lhe bem a greta,
Não te vá ela enganar...

E depois de veres o bicho
E as maneiras que tem
A funcionar a capricho,
Já sabes se te convém.

Mulher calma, é estimá-la
Como a santa no altar.
Cabra douda, é rifá-la...
- Que não venhas cá parar.

Este conselho te dão,
E não te levam dinheiro...
Os cornudos que aqui estão
Com S. Pedro hospitaleiro.

Invejosos quase todos
Dos cornos que o mundo guarda

Fazem mais um bocado de lamentação.
Nota do autor: quase, porque entretanto
alguns brincavam uns com os outros. Rabolices!

Mas se fornicas a rodos
Tua vinda aqui não tarda!

Recomeça a moralidade, estilo
Estão verdes, não prestam.
Alguns bêbados, cornudos
Despeitados ou amargurados.
Vozes pastosas.
Deve ler-se: viiinho... vélhiiinho...

Melhor que a mulher é o vinho
Que faz esquecer a mulher...
Que faz dum amor já velhinho
Ressurgir novo prazer.

Finale, muito católico

Assim termina o lamento
Pois recordar é sofrer.
Ama e fode. É bom sustento!
E por nós reza um pater.

Luiz Pacheco
Num dia em que se achou
Mais pachorrento.

Saturday 21 March 2020

ENQUANTO


Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
e um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
para ver como é;
enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
e correr pelos interstícios das pedras,
pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas;
enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
órfãs de pais e mães,
andarem acossadas pelas ruas
como matilhas de cães;
enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
num silêncio de espanto
rasgado pelo grito da sereia estridente;
enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
amassando na mesma lama de extermínio
os ossos dos homens e as traves das suas casas;
enquanto tudo isto acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
o poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA

António Gedeão

Wednesday 18 March 2020

Era de noite e levaram

Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia

Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria, de seda fria

Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que na casa havia
na casa havia, na casa havia

Só corpos negros ficaram
Só corpos negros ficaram
Dentro da casa vazia
casa vazia, casa vazia

Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada, da madrugada

Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito queimada
Na madrugada, na madrugada
Luís Andrade

Sunday 15 March 2020

As grandes insubmissões


As grandes insubmissões sempre foram para mim as pequenas. Na minha vida, lembro duas.
Começava um ano lectivo. Andaria no segundo ano do liceu. Era a época da feira da piedade. Cheguei de férias na minha terra e vi o vítor a andar de carrocel. Esperava que a volta acabasse para o abraçar. Fui esperando, ele nunca mais descia. Uma volta, mais outra, outra ainda. Fui contando: vinte. O vítor tinha vinte escudos. Eu já o respeitava, porque era muito alto. Passei a respeitá-lo mais. O Vítor era capaz de gastar vinte escudos no carrocel.

Outra grande insubmissão foi a do maurício, também nos primeiros anos do liceu.
Um dia o maurício faltou à aula das nove. Até aí, nada de particular. Saímos para o pátio e o maurício estava no campo de basket, perfeitamente equipado, sozinho, a lançar a bola ao cesto.
– Ó maurício, faltaste à aula das nove.
E o maurício, sem responder, imperturbável, continuava a lançar a bola ao cesto.
Tocou para a aula das dez.
-Ó maurício, não vens à aula?
O maurício não respondia. Continuava, imperturbável, a lançar a bola ao cesto.
Faltou à aula das dez, faltou toda a manhã. Nos intervalos saíamos e logo ouvíamos a bola contra a tabela. O maurício, sozinho, continuava a lançar a bola ao cesto.
Só se foi vestir quando tocou para a saída da última aula dessa manhã. Esperámos todos por ele. Não lhe perguntámos nada. E seguimo-lo cheios de admiração. O maurício, apesar dos professores, apesar dos contínuos, apesar da campainha, faltara a todas as aulas.
Toda a manhã jogara basket. Sozinho. Contra professores, contra contínuos, contra a campainha.

Ruy Belo

Thursday 12 March 2020

RECUSA

Convosco, não, traidores!
Que poeta decente poderia
acompanhar-vos um segundo apenas?
À quente romaria do futuro
não vão homens obesos e cansados.
Vão rapazes alegres,
moças bonitas,
trovadores,
e também os eternos desgraçados,
revoltados
e sonhadores.

Miguel Torga

Monday 9 March 2020

Discurso do filho da puta

I


O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;
mas não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho da puta.
no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho da puta.
de resto,
os filhos da puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho da puta.
o pequeno
filho da puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho da puta.
no entanto,
o pequeno filho da puta
tem orgulho
em ser

o pequeno filho da puta.
todos os grandes
filhos da puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
dentro do
pequeno filho da puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho da puta.

tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
o pequeno filho da puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho da puta.
é o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
de resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos

o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta.

 
II
 
o grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,

e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
no entanto,
há filhos da puta
que já nascem grandes

e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho da puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta
.
o grande filho da puta
tem uma grande

visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho da puta.
por isso
o grande filho da puta
tem orgulho em ser
o grande filho da puta.
todos
os pequenos filhos da puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
dentro do
grande filho da puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos da puta,
diz o
grande filho da puta.
tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos da puta,
diz
o grande filho da puta.
o grande filho da puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho da puta.
é o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
de resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta. 

Alberto Pimenta

Friday 6 March 2020

NO PAÍS DOS SACANAS

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a
justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é e pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena
(10/10/1973)

Tuesday 3 March 2020

Não te rendas meu povo

Não te rendas meu povo. Não te rendas
às mãos de quem te quer voltar a ver
cativo e desgraçado. Não te vendas.
Aqui nada mais temos a vender!

Não te cales meu povo. Que a saudade
já não pode doer dentro de nós.
Se o teu punho constrói a liberdade
levanta ainda mais a tua voz.

Não te rendas meu povo. Não te rendas.
Que já nos querem sós. E divididos.
Que já nos querem fracos. E calados.

Não te cales meu povo. Não te vendas.
Que quando nos quiserem já vencidos
hão-de ter-nos de pé. E perfilados.


Joaquim Pessoa

Sunday 1 March 2020

«A TERRA A QUEM A TRABALHA!»

9 de Fevereiro de 1975: em Évora, tinha lugar a I Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul, organizada pelo PCP, e em cujos trabalhos e comício de encerramento participaram mais de 30 mil trabalhadores.
Era o primeiro passo dessa caminhada exaltante que foi a construção da Reforma Agrária.

Para trás, ficavam décadas de luta do proletariado agrícola do Sul - luta corajosa e determinada contra o latifúndio opressor e explorador, contra o fascismo. Pela liberdade e pela democracia. Pela Reforma Agrária.

No comício de encerramento da Conferência, Álvaro Cunhal disse:

«Vivemos um momento histórico nos campos do Sul. Pelas mãos dos trabalhadores, a Reforma Agrária deu os primeiros passos. Do Alentejo das terras incultas, das charnecas, dos pousios, do gado raro e miserável, dos baixos rendimentos das culturas; do Alentejo do desemprego, da fome e da miséria, os trabalhadores, com o apoio do Estado democrático, farão um Alentejo com uma agricultura que dará em abundância os produtos de que os trabalhadores e o País necessitam.
A Reforma Agrária surge natural como a própria vida, aparece como resultado da necessidade objectiva de resolver o problema do emprego e da produção, como solução indispensável e única».
E, mais adiante, acrescentava:

«Os latifúndios têm sido e são a miséria, o atraso e a morte.
A entrega da terra a quem a trabalha significa a própria vida, a vida para os trabalhadores desempregados e seus filhos, vida para a agricultura abandonada, sabotada pelos grandes agrários e pelos grandes capitalistas»
.

E assim foi.
Menos de um ano após a Conferência de 9 de Fevereiro, a Reforma Agrária era uma realidade - uma realidade que, para além dos enormes êxitos alcançados em matéria de produção agrícola e pecuária, resolveu o problema do desemprego, da miséria e da fome; realizou uma impressionante obra social e cultural; transformou as relações de produção em relações de cooperação e solidariedade, com a abolição da exploração do homem pelo homem - e por tudo isso, e muito mais, foi, nas certeiras palavras de Álvaro Cunhal,
«a mais bela conquista da Revolução».

Da mesma forma que a construção da Reforma Agrária constituiu o momento mais luminoso desse tempo luminoso que foi a Revolução de Abril, também a sua destruição constituiu o momento mais sombrio deste tempo sombrio que tem sido o tempo da contra-revolução.
Com efeito, a ofensiva contra a Reforma Agrária - iniciada pelo primeiro governo PS/Mário Soares e prosseguida por todos os governos que se lhe seguiram integrando os restantes partidos da política de direita (PPD/PSD e CDS/PP) - foi, em muitos aspectos, um regresso ao passado.
Foi o regresso aos campos do Alentejo e Ribatejo das perseguições, das prisões, dos interrogatórios pidescos, das torturas, dos julgamentos sumários, dos assassinatos.
Foi o regresso do latifúndio - antes sustentáculo do fascismo, agora sustentáculo da contra-revolução.

A Reforma Agrária confirmou ser uma componente indispensável da democracia e do desenvolvimento de Portugal.
Por isso ela é indispensável no futuro democrático de Portugal - nesse futuro pelo qual lutamos todos os dias, combatendo a política de direita ao serviço dos interesses do gande capital, e tendo como objectivo conquistar uma política de esquerda ao serviço dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País.

Por isso, «A TERRA A QUEM A TRABALHA!» é uma palavra de ordem cheia de actualidade - e cheia de futuro.