Friday 30 June 2023
sem título
Tuesday 27 June 2023
sem título
minerar da sempiterna escuridão
o mais pequeno pedaço de caos
e ser um diamante.
Saturday 24 June 2023
mãos na mesa
Wednesday 21 June 2023
sem título
Sunday 18 June 2023
NOS MUROS ESCALAVRADOS...
Nos muros escalavrados
o debate ferve,
de entusiasmos ingénuos,
de acusações brutais,
de aspirações excessivas,
de sentenças correctas,
contra o custo da vida,
contra o desemprego,
contra as ameaças de guerra,
contra a acção da polícia.
Armindo Rodrigues
Thursday 15 June 2023
amor em tempos de corona
sem direito de resistência
que é o mais poético dos direitos
Monday 12 June 2023
sem título
deixei-o no mar
e quando vogavas as vagas
a tua proa cortou
os versos em dois
assim as ondas
depois da barra
os faroleiros
com estrelas nos olhos
te abraçaram
e ao longe
cantaram embriagados
uma canção de amor.
Friday 9 June 2023
sem título
tanta gente à espera do mar
tanto mar à espera da gente.
Tuesday 6 June 2023
a vida e a morte da estrela polar
lá no berço mais antigo
onde se aprende o norte do universo
pelo cheiro das galáxias
caminhamos a vereda íngreme da verdade
o sol põe-se o sol nasce
e nós juntamos o que pensamos hoje em cima
dos milhões que pensaram antes
e a nossa matéria
toma de si própria a consciência possível
no meio da tempestade
e do vento indecifrável das poeiras estelares
a maternidade de nós todos é uma estrela
e nós somos, até ver, na versão menos romântica estrelas mortas
a estrela polar morre no equador
porque escrevo no hemisfério norte
mas é no equador que nasce o cruzeiro
e a terra
acho que a terra também nasceu lá no sul
lá onde a vida não é um sucedâneo espanhol de chocolate
é cacau
onde a coca não é ina, é folha,
o nosso norte é o sul.
mas lá pelo sul também já espalharam norte.
Miguel Tiago
Saturday 3 June 2023
Thursday 1 June 2023
sem título
o quarto já estava desarrumado
a sala estava quase
eu virei o resto
todo o pó de um arco-íris que nunca veio
já estava no chão
o relógio marcava meia-noite
meia-noite e umas quantas traças nocturnas de verão
que eu não trazia quando entrei
as teias tecidas no canto da cozinha
eram de aranhas que encontrei na despensa
depois de noites inteiras a procurar
e o sótão sem janelas
só tinha a limpidez de uma noite depois da chuva
alguma parte disto
será minha
uma herança de milhões
de genes
perdidos no atlântico
que ainda hoje andarão nas vagas à deriva
um caminho que o vento traçou em ondas
de breu
uma viagem cujo destino não vai a lado nenhum
ou então já lá estou
dorme
dorme
meu menino que a maezinha logo vem
foi lavar os coerinhos à fontinha de belém
e uma toca de cria de lobo ibérico sem escolha
à espera de predador que o valha
sendo comido a pouco e pouco
por animais sem paladar
estes são os dias em que tudo o que agradecemos é pouco
porque uma toca é uma concha onde não mora mais ninguém
e ainda bem
somos o vento na ponta do dedo molhado pela língua
o norte no céu depois de ver onde cai o sol
somos a espingarda que não dispara porque é um brinquedo que esculpimos em madeira
a noite e o beijo na testa
que no fim do dia espreita com a lua não importa se está nova
somos o princípio e o fim de nós todos porque só há todos com nós
e um dia quando sussurrar no ouvido de alguém
desarruma-me
estarei a mentir
porque desarrumado já estava desde o dia, a noite,
em que junto aos trópicos entrei no quarto pela primeira vez.