Thursday 27 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (10)

EM JEITO DE BALANÇO

Em nove posts, o Cravo de Abril relembrou (muito sumariamente) aspectos vários da sinistra «Caça às Bruxas» que, durante cerca de uma década, varreu os EUA.
Também aqui foram relembrados (muito sumariamente) alguns acontecimentos que antecederam esse processo, igualmente caracterizados por uma odienta sanha persecutória e repressiva que tinha os comunistas como alvo selectivo, mas que atingiu milhares e milhares de democratas não-comunistas - a confirmar que o anticomunismo é, sempre, antidemocrático.

No relembrar de tudo isto, revisitámos um tempo histórico talvez decisivo na construção da democracia norte-americana e no decorrer do qual essa democracia pôs a nu o seu conteúdo, a sua natureza de classe e os métodos a que é capaz de recorrer para se impor.
Com efeito, os EUA desse tempo - tempo da devastação do movimento sindical de classe (na sequência do triunfo da Revolução de Outubro) e da Caça às Bruxas - são os EUA de Hiroshima e Nagasáqui; da instalação e (ou) apoio a todas as ditadures fascistas do mundo; da opressão e repressão sobre os povos da América Latina; da delapidação e do esbulho da riqueza nacional de dezenas e dezenas de países e povos; da destruição da Jugoslávia; da invasão e ocupação do Iraque e do Afeganistão - tudo servindo a sua ambição imperialista de domínio absoluto do mundo; tudo deixando atrás um rasto de sofrimento, de sangue, de morte, de horror.

Nestas relembranças encontrámos também, como não podia deixar de ser, os que, sejam quais forem as circunstâncias, não se resignam, não capitulam, rejeitam a arbitrariedade e a opressão, e lutam e resistem, lutam e resistem sempre - sabendo que, se quem luta nem sempre ganha, quem não luta, perde sempre.


Para os interessados, aqui fica uma lista de filmes que, directa ou indirectamente, abordam o período da Caça às Bruxas:

«O Preço de Uma Vida» - de Edwuard Dmytryk - 1949
«Um Rei em Nova Iorque» - de Chaplin - 1957
«O Nosso Amor de Ontem» - de Sidney Pollack - 1973
«Culpado por Suspeita» - de Irwin Winkler - 1975
«O Testa de Ferro» - de Martin Ritt - 1976
«Júlia» - de Fred Zineman - 1977
«Pesadelo na Rua Carrol» - de Peter Yats - 1988
«Na Lista Negra» - de Philip Saville - 1989
 

Monday 24 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (9)

ANTECEDENTES (3)

A AFL
A AFL-CIO
A AFL-CIA...

Ao mesmo tempo que liquida o seu carácter de classe e democrático, a AFL entra no mundo dos negócios: com o dinheiro dos associados compra terrenos e empresas, torna-se sócia de bancos e de grandes empresas. A dada altura, detém 13,7% da Holliday Inn, 13,6% da Texas Instruments, 12,9% da McDonalds, 12,8% da K Mart, 12,6% da Delta Air Lines...

A situação entretanto criada gerava descontentamento e revolta no seio da AFL. A dada altura, surge uma tendência visando combater o estado das coisas, com a criação da Liga Educacional Sindical - que viria a ser rapidamente neutralizada com a expulsão e a prisão dos seus activistas, ao abrigo do «estatuto anticomunista».

E só em 1938, no quadro do forte movimento de greves operárias então em curso, um grupo de dirigentes sindicais rompe com a AFL e funda o Congresso das Organizações Industriais (CIO).
Esta foi a primeira grande resposta à degradação da AFL, à sua traição de classe, ao seu racismo.
O CIO adquire de imediato grande influência.
É evidente o contraste entre as posturas das duas centrais: por altura da II Guerra Mundial, enquanto «a AFL financia e organiza apoios de diversa ordem a Hitler e Mussolini, o CIO integra um movimento anti-nazi» e, após a Guerra, toma parte activa na criação da progressista Federação Sindical Mundial (FSM).
Nesse tempo a AFL perde influência junto dos trabalhadores - mas «mantém o apoio do grande patronato e da extrema direita política, organizada no Partido Republicano e em sectores do Partido Democrático».

Todavia - repito! - o grande capital não dormia. Nunca dorme.
E na intensa campanha anticomunista desencadeada após o fim da Guerra, o CIO era um alvo a abater.
Já aqui se disse que, entre os milhares homens e mulheres que integravam as «listas negras» do fascista MacCarthy, figuravam muitos sindicalistas. Além disso, a AFL apoiava e colaborava na Caça às Bruxas...
A operação contra o CIO desenvolve-se em duas linhas paralelas e complementares: por um lado, o grande patronato recusa negociar com os sindicatos filiados no CIO; por outro lado, repete-se na nova central o esquema utilizado anteriormente na AFL: perseguições dos sindicalistas mais destacados, que são acusados de «comunistas» e presos - é a caça às bruxas no movimento sindical.
Apesar disso, em 1946, o CIO lidera as grandes greves (com ocupação de empresas) na indústria automóvel - ficando célebre a greve de mais de 100 dias na General Motors.
Mas a ofensiva contra a central era muito forte, organizada e persistente e, a dada altura, «alguns dos dirigentes mais influentes do CIO começam a ceder»...
Acresce que, em Junho de 1947, o Congresso dos EUA aprova a lei Taft-Hartley: uma «lei de carácter anti-sindical e anti-greve»...
E um ano depois o CIO decide «adequar os seus estatutos à nova lei».
Os sindicatos que rejeitam a decisão e que mantêm nos seus estatutos «a luta contra o capitalismo» - sindicatos que representam um milhão de trabalhadores - são expulsos da central.
Logo a seguir, o CIO afasta-se da FSM - e o seu tesoureiro, James Casey sintetiza assim a nova posição da central: «No passado unimo-nos aos comunistas para lutar contra os fascistas, mas numa outra guerra unir-nos-emos aos fascistas para lutar contra os comunistas».
E agindo em consonância com o que disse «expulsou do CIO todos os sindicatos progressistas e de classe».

Recorde-se que, enquanto tudo isto acontecia, a Comissão de MacCarthy intensificava a Caça às Bruxas: Dashiel Hammett, John Garfield, Dalton Trumbo, etc, eram submetidos aos interrogatórios da Comissão - e Julius e Ethel Rosenberg eram presos e, a seguir, executados.

Em 1955, a AFL e o CIO juntam os trapinhos...
O primeiro presidente da AFL-CIO define assim a linha político-sindical da nova central: «Nós cremos no sistema capitalista. O nosso objectivo é a preservação do capitalismo que não queremos trocar por nenhum outro sistema».
Palavras para quê?: é um dirigente do sindicalismo «livre» e «independente» em acção...

Nos anos que se seguiram, a AFL-CIO mostrou o que valia, apoiando todas as acções belicistas do Governo dos EUA - da guerra do Vietnam ao bloqueio a Cuba...
«Sindicalistas» da AFL-CIO participaram na preparação do golpe de Pinochet (na organização da greve dos camionistas) e no golpe militar fascista de 1 de Abril de 1964, no Brasil.
William Doherty, dirigente da central, disse sobre essa participação: «O que aconteceu em 1 de Abril de 1964 não foi obra do acaso: tudo foi planeado com meses de antecedência e nessa planificação tiveram papel importante muitos líderes sindicais treinados pela AFL-CIO, os quais estiveram profundamente envolvidos no golpe».
Registe-se que William Doherty «fazia parte da folha de pagamentos da CIA» - e tão estreita e óbvia era a ligação da AFL-CIO à CIA que, a partir de certa altura, a central passou a ser conhecida por AFL - CIA...

Com a criação, em 1949, da Confederação Internacional dos Sindicatos Livres (CISL), as duas centrais passaram a colaborar estreitamente numa versão da «caça às bruxas» adequada ao novos tempos: a promoção do divisionismo sindical, tendo como objectivo essencial a liquidação dos sindicatos de classe e a promoção do «sindicalismo livre».
Nessa acção têm dedicado particular atenção à «formação sindical», através de «cursos» realizados por todo o mundo...
Quem acompanhe com um mínimo de atenção a vida sindical portuguesa, dará conta da realização regular de tais «cursos» no nosso País...

Aliás, o que se passou - e passa! - em Portugal é um exemplo perfeito do conteúdo da intervenção dessas centrais do divisionismo:
«São conhecidas as ingerências de centrais sindicais internacionais, pela mão de Mário Soares, na vida sindical portuguesa: a CISL, com o seu "escritório" montado em Lisboa logo a seguir ao 25 de Abril e com os seus "seminários de formação sindical"; a norte-americana AFL-CIO, que aqui começou a trabalhar logo a 27 de Abril de 74 (reunindo clandestinamente com quem Soares muito bem sabe...) e que, a dada altura, informava no seu jornal, num linguajar nada sindicalista, que "houve conversações em Washington com as lideranças dos dois mais importantes partidos portugueses"; que "estabelecemos contactos com o movimento sindical português"; que "sindicatos e partidos políticos não comunistas da Europa ocidental têm estado activos em Portugal a fim de corrigir as distorções a que o movimento sindical foi submetido pelos comunistas" - e a AFL-CIO garantia uma "ajuda sem limites" ao divisionismo sindical em Portugal. Via Mário Soares, obviamente».
Foi assim que - apadrinhada, benzida e, sobretudo, financiada pela CISL e pela AFL-CIO - nasceu a UGT.
 

Friday 21 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (8)

ANTECEDENTES (2)

A AFL

Uma área onde são visíveis raízes da Caça às Bruxas organizada por Joseph MacCarthy é a área sindical: a poderosa central sindical AFL foi, então - e continua a sê-lo hoje, embora de forma diferente - um dos muitos instrumentos utilizados na perseguição aos «vermelhos»...

Fundada em 1881, a AFL começou por ser uma verdadeira representante dos trabalhadores com o que adquiriu uma influência e uma força notáveis.
Ela encabeçou a luta pelas oito horas de trabalho, no decorrer da qual se realizaram milhares de greves e de manifestações diversas, sempre brutalmente reprimidas - inclusive com o assassinato dos «mártires de Chicago», em 1 de Maio de 1886, que viria a dar origem ao Dia Internacional dos Trabalhadores.

Mas o grande capital não dormia - aliás, nunca dorme... - e através de um vasto plano - que incluiu infiltrações nos sindicatos, compra e suborno de sindicalistas e medidas repressivas do mais variado tipo - logrou liquidar o conteúdo de classe e democrático do movimento sindical.
Assim, quando em 1898, com a Guerra Hispano-Americana (que marcou o nascimento dos EUA como grande força militar e de ocupação) os EUA ocuparam e anexaram Cuba, Haiti, Porto Rico, Filipinas, a AFL aplaudiu e apoiou...

Não surpreende, assim, que a partir de 1917 a acção da AFL se tenha virado para o anticomunismo e, uma coisa leva à outra, para a traição aos direitos e interesses dos trabalhadores: ao mesmo tempo que defende o envio de tropas norte-americanas para esmagar a Revolução de Outubro, a AFL renega e rejeita a luta de classes e as greves; apoia e colabora com as forças policiais na repressão aos trabalhadores em greve; inclui a «acção anticomunista» nos seus estatutos.
E esmaga a oposição interna entretanto surgida, através de uma autêntica... caça às bruxas: milhares de sindicalistas honestos são acusados de «comunistas» ou de «suspeitos» de o serem, denunciados à polícia e presos.
Por outro lado, o racismo passa a integrar os «princípios» da AFL, que defende a exclusão dos negros do mercado de trabalho e de sócios dos sindicatos. Como justificava um alto dirigente da AFL, «não queremos admitir como membros o rebotalho, os que não prestam para nada».

Paralelamente a estas orientações, os dirigentes vendidos da AFL proclamam o fim da contratação colectiva e a sua substituição pela negociação individual e o fim das greves e a sua substituição pela negociação pacífica e civilizada entre dirigentes sindicais e patrões - que fundamentavam assim: «o patrão dirige a empresa e o líder sindical dirige as negociações com o patrão» - logo acrescentando que, «para isso, os líderes sindicais devem ser bem remunerados». E eram.

Entretanto, e não podendo travar o forte ascenso da luta da aguerrida classe operária norte-americana, esses dirigentes da AFL desempenhavam o seu papel de bufos colaboradores das forças repressivas.
Vive-se, então, um tempo de fortes lutas operárias, em que a repressão recrudesce, e em que se sucedem os casos de sindicalistas «desaparecidos»...
É o tempo da prisão de Sacco e Vanzetti, e do miserável processo a que foram submetidos e que viria a terminar com a execução de ambos, em 1927.
É um tempo decisivo na construção da «democracia» norte-americana...

Com a crise de 1929 e a explosão do desemprego que se lhe seguiu, a AFL, para impedir o forte movimento grevista, faz um negócio com a Máfia - negócio que viria a revelar-se altamente rentável para ambas as partes: por um lado, as sedes da AFL passam a funcionar como centros de organização dos negócios da máfia; por outro lado, e em troca, os mafiosos liquidam os sindicatos que apelam à greve.
Neste caso, qual o significado de liquidar?
Foi assim: sedes de sindicatos foram assaltadas por grupos mafiosos armados, os quais expulsaram e assassinaram dirigentes sindicais, substituindo-os, eles próprios, os mafiosos, nas direcções dos respectivos sindicatos - de tal forma que, a curto prazo, a Máfia tinha o controlo de elevado número de sindicatos e homens da Máfia passaram a integrar a direcção executiva da AFL...
É conhecida a declaração de Al Capone, justificando os crimes cometidos pelos seus homens contra os sindicalistas: «É preciso manter os trabalhadores afastados da literatura vermelha e do perigo comunista».
 

Tuesday 18 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (7)

ANTECEDENTES

Assumindo o risco de abusar da paciência dos visitantes do Cravo de Abril, dedicarei ainda três posts ao tema Caça às Bruxas: dois registando acontecimentos e situações que antecederam a operação e o último para fazer um breve balanço de todo o processo.

Como é evidente, a Caça às Bruxas não surgiu do nada nem é apenas uma iniciativa desgarrada levada a cabo pelo anticomunista paranóico Joseph MacCarthy.
Repetindo: a operação insere-se na brutal ofensiva anticomunista desencadeada nos EUA logo após o triunfo da Revolução de Outubro.
O facto de, pela primeira vez na história, a classe operária ter conquistado o poder num país, ter construído o primeiro Estado proletário do mundo e ter iniciado a construção de uma sociedade nova, liberta da opressão e da exploração, socialista - este facto aterrorizou o grande capital internacional.
E todos os recursos, meios e métodos foram requisitados para a ofensiva visando liquidar à nascença a jovem revolução e impedir a propagação do seu exemplo noutros países.

O Partido Comunista dos EUA - criado em 1920 - foi, naturalmente, o alvo primeiro e principal dessa ofensiva.
Sob pretextos vários, os militantes comunistas eram perseguidos e presos: «o perigo vermelho» passou a ser tema diário nos média, acompanhado das inevitáveis «informações» sobre as «injecções atrás da orelha», as «criancinhas devoradas ao pequeno almoço» e outros argumentos semelhantes...

Por essa altura, as técnicas de propaganda sofrem um poderoso impulso nos EUA: «controlar as massas e fabricar consentimento» é o objectivo traçado.
Dito de outra forma: de acordo com os mecanismos da democracia norte-americana, «o país deve ser dirigido por uma elite de cidadãos»; os outros «têm apenas de ficar sossegados e concordar», e «para que isso aconteça, é necessário controlar o que eles pensam e arregimentá-los como soldados» - pelo que «controlar a opinião pública e assegurar que os cidadãos fiquem afastados da vida pública», é a grande questão...
Dito ainda de uma outra forma: não se trata de saber se a nossa democracia é perfeita: o que é necessário é que a maioria acredite que ela é perfeita e aja em conformidade com essa crença...
Há que reconhecer que tais técnicas de propaganda registaram assinaláveis (e dramáticos) êxitos, não apenas nos EUA mas praticamente em todo o mundo.

Em 29 de Junho de 1940, o Congresso dos EUA aprovou uma lei (Alien Registration Act) que proibia a manifestação de ideias pondo em causa o governo ou defendendo outro sistema que não fosse o capitalismo dominante...
A mesma lei, obrigava a que todos os estrangeiros com mais de 14 anos residentes nos EUA fizessem uma declaração com o registo das suas convicções políticas...
Obviamente, o não cumprimento da lei era considerado um «acto antipatriótico»...

Estava lançada a ofensiva «legal» contra o PCEUA e contra todas as organizações de esquerda.
De imediato foi lançada uma vasta operação de busca de «pessoas suspeitas de antipatriotismo» - que o mesmo era dizer: de «vermelhos»...

Pouco depois, onze dirigentes do PC foram presos e, após um julgamento que se arrastou por vários meses, foram condenados a pesadas penas de prisão.
Logo a seguir, são presos cerca de cinquenta militantes comunistas... - e por aí fora, numa escalada que seria atenuada durante a II Guerra Mundial mas que irromperia, brutal, logo que o nazi-fascismo foi derrotado e o prestígio da União Soviética corria mundo.

Este caldo de cultura intolerante e anticomunista é, então, um antecedente da Caça às Bruxas dirigida por MacCarthy.
E é de toda uma ininterrupta sucessão de factos semelhantes, ocorridos ao longo dos tempos e até aos dias de hoje, que é feita a democracia dos EUA...
 

Saturday 15 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (6)

«A LISTA DOS VERMELHOS»
«O CASAL ROSENBERG»


Em Junho de 1950, três ex-agentes do FBI e um produtor de televisão elaboraram uma lista com 151 nomes de escritores, realizadores e actores «vermelhos» - tudo nomes «novos», isto é: que não constavam das listas da Comissão de MacCarthy.

Essa lista foi elaborada a partir dos arquivos do FBI e de uma busca minuciosa no jornal Daily Worker, órgão do Partido Comunista dos EUA.

«A lista dos vermelhos» foi enviada a todos os directores de estúdios cinematográficos, os quais, de imediato, suspenderam os 151 acusados, «até serem ouvidos pela Comissão» - após o que, se convencessem a Comissão de que estavam inocentes, voltariam a ser readmitidos»... - «convencer a Comissão» significava «confessar o crime, mostrar arrependimento e denunciar outras pessoas»...

É nesse mesmo ano de 1950 que tem início um processo que viria a ter enorme impacto em todo o mundo, iniciado com a prisão do «casal Rosenberg», sob a acusação de fazerem espionagem a favor da União Soviética.
O julgamento - que durou 9 meses - constituiu uma autêntica farsa: tratava-se, afinal, de o tribunal corroborar a decisão de «culpados» previamente decidida pela polícia...
E o tribunal assim fez: em 29 de Março de 1951, Julius e Ethel Rosenberg foram condenados à morte.
A principal testemunha de acusação era um soldado: David Greenglass, irmão de Ethel Rosenberg...

Contra a condenação, ergueu-se em todo o mundo (e nos própiros EUA), uma imensa vaga de protestos, designadamente envolvendo personalidades como Einstein e Jean Cocteau, Frida Kahlo e Dashiel Hammett, Pablo Picasso e Fritz Lang, Brecht e o Papa Pio XII.

Mas a decisão de executar Julius e Ethel Rosenberg estava tomada desde há muito: desde antes, mesmo, de eles serem presos e acusados...
Nos meses que antecederam a execução, milhares de pessoas manifestaram-se em dezenas de países, contra aquilo que Jean Paul Sarte classificou como um «linchamento que mancha de sangue toda uma nação».
E horas antes do «linchamento», Picasso, no jornal do PCF - L'Humanité - apelava à acentuação dos protestos: «As horas contam, os minutos contam. Não deixemos ocorrer este crime contra a humanidade».

Em 19 de Junho de 1953, Julius Rosenberg e Ethel Rosenberg foram executados na cadeira eléctrica, na prisão de Sing Sing.
Até minutos antes da execução contiuaram a negar a acusação de espionagem.

Em 2001, David Greenglass, cujo depoiamento fora decisivo para a condenação da irmã e do cunhado, viria a confessar que mentiu no julgamento:
«Eles ameaçaram prender a minha mulher e os meus filhos se eu não colaborasse. E eu não podia sacrificar a minha mulher e os meus filhos pela minha irmã».
E acrescentou: «mas eu não sabia que eles iam ser condenados à morte»... 
 

Wednesday 12 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (5)

A DIGNIDADE DE DASHIEL HAMMETT

Dashiel Hammett - o criador do policial negro - foi (é) um dos maiores escritores norte-americanos.
Quando MacCarthy mandou retirar de todas as bibliotecas públicas dos EUA «30 mil livros escritos por comunistas e simpatizantes», os livros de Hammett encontravam-se, naturalmente, entre os banidos...

Hammett era membro do Partido Comunista dos EUA e Presidente do Congresso dos Direitos Civis de Nova Iorque, organização comunista muito activa no apoio e na solidariedade às organizações a activistas de esquerda.

No processo da Caça às Bruxas, Dashiel Hammett foi submetido a três longos e cerrados interrogatórios: o primeiro, em Julho de 1951; os dois restantes, em Março de 1953.
Passou vários meses numa prisão de alta segurança, onde foi tratado como se fosse um terrível criminoso - e onde lhe foi atribuída a tarefa de limpar as retretes...

Sabia-se que, nesses interrogatórios, Hammett destroçara os inquisidores - entre eles o próprio MacCarthy - com a sua inabalável recusa em prestar declarações, fosse sobre o que fosse.
Mas só agora - com a publicação dos relatos integrais desses interrogatórios (Dashiel Hammett/Interrogatoires, Editions Allia, Paris, 2009) - se ficou a conhecer, com rigor, o que foram aquelas alucinantes sessões.

Estes «Interrogatoires» são um documento notável que nos mostra como, à demência persecutória, ameaçadora e repressiva das bestas, Hammett contrapôs a sua corajosa e serena dignidade.
Na verdade, Hammett recusou responder a tudo, inclusive a questões cujas respostas não o incriminariam mesmo na óptica dos fanáticos inquisidores.

Mais tarde, quando a sua companheira - Lillian Helmann, também militante comunista e também na «lista negra» - lhe perguntou por que não tinha respondido a essas coisas que eram do conhecimento público e que não o incriminariam, Dashiel Hammett respondeu simplesmente:

«Só sei que tinha que fazer o que fiz. Por uma questão de princípio. Mesmo que as consequências disso não fossem apenas a cadeia e implicassem a perda da própria vida, eu teria feito o mesmo».
 

Sunday 9 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (4)

HÁ LODO EM KAZAN

Há os que traem porque não conseguiram resistir - mas continuam do mesmo lado da barricada e prosseguem a luta.
Há os que traem porque não conseguiram resistir - e se vendem e passam, com armas e bagagens, para o outro lado da barricada.

Elia Kazan foi um dos vendidos - e talvez o mais degradado de todos eles.
Era membro do PC dos EUA. Denunciou à Comissão dezenas de camaradas e amigos seus - os quais foram presos e viram as suas carreiras arruinadas e as suas vidas destruídas.
Até ao fim da vida, Kazan não apenas não tinha lamentado o que fez, como se mostrava satisfeito com o que tinha feito.

No plano profissional, ao contrário de Dmytryk - que se transformou num realizador vulgar - Kazan continuou a exibir o seu talento em filmes de grande qualidade.
Mas, naturalmente, também com orçamentos à medida dos seus desejos...
Registe-se, no entanto, que as vantagens financeiras que a traição proporcionou a esses vendidos, tinha a ver, também com as suas vidas pessoais e particulares.
Orson Welles pôs o dedo na ferida quando disse, referindo-se expressamente a Kazan mas falando para todos os vendidos, que «eles venderam as suas consciências a troco da casas com piscina»...

Dis filmes realizados por Kazan após a traição, emerge o célebre Há Lodo no Cais - elogiadíssimo e premiadíssimo.
Ora a verdade é que, tratando-se de um filme notável em vários aspectos, ele é, também e de facto, uma autêntica apologia da delação - o que não surprende se tivermos em conta que Há Lodo no Cais é fruto do trabalho conjunto de dois delatores: Kazan e o argumentista Bud Schulberg...

Em Setembro passado, aquando da comemoração do 100º aniversário do nascimento de Kazan pela Cinemateca Nacional, alguém comentou assim essa parte da vida de Kazan:
«Elia Kazan corre o risco de ser lembrado mais pelo seu papel na "caça às bruxas" dos anos 50. Tiremos isso já do caminho: em 1952, acossado pela House Un-American Activities Comittee, ferramenta do senador Joe MacCarthy para tentar extirpar o comunismo da América, Elia Kazan, que havia feito parte do Partido Comunista Americano nos anos 30, denunciou vários colegas que, ao longo dessa década, não mais arranjaram emprego no seu ramo. Imoral? Desprezível? Talvez, mas, por um lado, apenas Kazan sabe as pressões a que esteve sujeito e, por outro lado, tal facto não belisca em nada uma das mais brilhantes e influentes carreiras da época dourada de Hollywood»
Dispenso-me de comentar em pormenosr esta espécie de manual do bom delator e passo adiante:
É certo que estamos a falar de um dos mais talentosos realizadores norte-americanos. Mas não é menos certo que estamos igualmente a falar de um indivíduo imoral e desprezível (sem pontos de interrogação...)
E não sou eu, apenas, que o digo: dizem-no muitos homens do cinema norte-americano e mundial e confirma-o... o próprio Kazan - com adiante veremos.

Em 1996 e 1999, Kazan viu o conjunto da sua obra premiado, respectivamente, com o Urso de Ouro do Festival de Berlim e com o Óscar de Carreira, em Hollywood.

Na cerimónia de entrega do Óscar - e nos dias que se lhe seguiram - dezenas de actores fizeram ouvir o seu protesto pela atribuição do prémio a tal pessoa. Entre os que protestaram e (ou) vaiaram Kazan, estão Richard Dreyfuss, Nick Nolte, Ed Harris, Ian Mckellen, Rod Steiger, Sean Pen (cujo pai foi uma vítima do maccarthismo).

Em Berlim, onde se deslocou para receber o tal Urso, Kazan mostrou que «imoral» e «desprezível» são palavras demasiado suaves para qualificar a abjecção que foi o seu comportamento.
Tendo-lhe sido perguntado o que pensava das práticas da Comissão de MacCarthy, porque denunciara os seus amigos e se estava arrependido do que fizera, Kazan respondeu:

«Concordei com tudo o que a Comissão fez. Concordei e colaborei com os inquéritos. Estou convencido que as liberdades americanas estiveram ameaçadas por um complot comunista -e entre a consciência e os amigos, escolhi a consciência. Não estou arrependido de nada, não foi um erro».

Assim afirmou Kazan a sua orgulhosa condição de delator e de herdeiro político e ideológico do fascista, sádico e psicopata MacCarthy.
Assim confirmou Kazan que, na outra face do grande homemde cinema que é, mora um homenzinho minúsculo, vil, rasteiro, nojento.
Assim confirmo eu que há lodo em Kazan
 

Thursday 6 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (3)

«A LISTA NEGRA»

No dia seguinte à condenação dos Dez de Hollywood, em 25 de Novembro de 1947, a Comissão de Actividades Anti-Americanas anunciou a primeira «Lista Negra» de cidadãos norte-americanos suspeitos de simpatias comunistas e, portanto, «antipatriotas» e «traidores» que preparavam «um complot para derrubar o governo dos EUA»...

Muitos eram ligados à indústria cinematográfica e ao mundo do espectáculo; muitos outros eram cientistas, professores, sindicalistas - e, todos, suspeitos de pertencer, ter pertencido, vir a pertencer, ou simpatizar com o Partido Comunista dos EUA...

Essa primeira «Lista Negra» que, até 1952, viria a ser aumentada, incluia centenas de nomes conhecidos de actores, realizadores, escritores, músicos, entre eles:
Orson Welles, Bur Ives, José Ferrer, Lee J. Cobb, Edie Albert, Judy Holliday, Gary Cooper, Robert Taylor, Elia Kazan, John Garfield, Edward G. Robinson, Joseph Losey, Charles Chaplin, Bertolt Brecht, Jules Dassin, Robert Rossen, Martin Ritt, Arthur Miller, Howard Fast, Dashiel Hammett, Richard Wright, Irwing Shaw, Bud Schulberg, Langston Hugues, Canada Lee, Paul Robeson, Hans Eisler, Pete Seger, Aarons Copland, Abraham Polonsky, Burgess Meredith, Sterling Haiden, Leonard Bernstein
.

A Comissão dispunha de uma outra «lista»: a dos bufos - gente do cinema, também, que colaborava activamente na «caça às bruxas», espiando e denunciando colegas.
Desses bufos, destacaram-se, entre vários outros, Ronald Reagan, Adolphe Menjou e Walt Disney.
(registe-se o facto, por demais significativo, de, ligados a este sinistro processo estarem dois futuros presidentes dos EUA: Nixou e Reagan - e acrescente-se o facto de o apoio de MacCarthy a Eisenhower ter vindo a ser decisivo para a eleição deste à presidência dos EUA)

Corajosas acções de solidariedade com os perseguidos e de protesto contra as práticas da Comissão, foram levadas à prática, entretanto.
Entre os que assumiram publicamente essa postura, contam-se John Huston, Howard Hawks, Lauren Bacal e Humphrey Bogart - estes dois, particularmente activos no combate à intolerância, chegaram a promover, a dada altura, rm Washington, uma marcha contra a caça às bruxas.

Muitos dos incluídos na «Lista Negra» não resistiram aos interrogatórios e confessaram o «crime», o que significou, nuns casos, confessarem o que os inquisidores queriam que confessassem; noutros casos, confessarem mais, até, do que lhes era pedido...
Outros, após terem recusado prestar declarações, vieram posteriormente a ceder, como forma de salvarem as suas carreiras, casos, entre outros, de José Ferrer, Judy Holliday, Canada Lee, Martin Ritt.
Houve ainda os que se transformaram em activos delatores, entre eles Gary Cooper, Sterking Hayden, Robert Taylor, Bud Schulberg, Elia Kazan.

Dois casos:

1 - Robert Taylor: foi chamado à Comissão porque participara, em 1944, num filme intitulado «Canção da Rússia» - filme que após o fim da guerra, passou a ser considerado como «muito perigoso», pelo facto de mostrar «russos a sorrir». Ora, segundo a Comissão, mostrar «essa gente a sorrir é fazer propaganda comunista»...
Acrescia que, no filme, o personagem desempenhado por Robert Taylor cometera o gravíssimo crime de «mostrar simpatia e sorrir para o actor que representava um camponês russo»...
No decorrer do interrogatório, Taylor declarou-se «profundamente arrependido» de ter entrado em tal filme e, para que a Comissão não tivesse dúvidas sobre o seu profundo arrependimento, informou que tinha «ouvido dizer que Howard Silva, Karen Morley, Lester Cole ( e mais uns quantos) eram comunistas»...

2 - John Garfield: é considerado um dos maiores actores da história do cinema. Celebrizado pelo desempenho de papéis em que «personificava o rebelde pertencente à classe operária», foi um predecessor de James Dean (do qual se dizia que era o «John Garfield da década de 50»).
Scorsese diz, reportando-se designadamente à interpretação de John Garfield em «Forças do Mal», que «ninguém no cinema expressou melhor do que ele o sentimento de culpa».
Denunciado à Comissão por Elia Kazan - que conhecia a sua actividade política por terem sido, ambos, militantes comunistas - John Garfield foi interrogado dezenas e dezenas de vezes e ameaçado, insultado, miseravelmente provocado pelos inquisidores fascistas.
Recusou, sempre e até ao fim, prestar quaisquer declarações.
Na sequência disso viu a sua carreira de actor completamente arruinada.
Viria a morrer em 1952, com 39 anos de idade, em circunstâncias estranhas e obviamente ligadas ao pesadelo a que estava a ser sujeito: a sua morte, de enfarte cardíaco, ocorreu quando se dirigia para mais uma sessão de interrogatórios...

O funeral de John Garfield constituíu uma impressionante manifestação em que milhares e milhares de pessoas - intelectuais, operários, empregados, sindicalistas - expressaram a sua admiração pelo talento, pela coragem, pela dignidade do jovem actor. 
 

Monday 3 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (2)

«OS DEZ DE HOLLYWOOD»

No dia 24 de Novembro de 1947, dez homens do cinema foram ouvidos pela Comissão de Actividades Anti Americanas, onde, para além do fascista MacCarthy, pontificava um então jovem político chamado Richard Nixon.
Assim era dado início ao brutal e sádico processo de perseguição e repressão política que foi um dos mais sombrios momentos da história dos EUA.

«Os Dez de Hollywood» - como ficaram conhecidos - todos nomes grandes do cinema norte-americano, eram: Herbert Biberman e Edward Dmytryk, realizadores; Adrian Scott, produtor; e os argumentistas Lester Cole, Albert Maltz, John Howard Lawson, Samuel Ornitz, Ring Lardner, Alvah Bessie e Dalton Trumbo.

Os interrogatórios a que foram submetidos assentavam na pergunta-chave: «É, ou foi, membro do Partido Comunista dos Estados Unidos da América?» - após o que, os inquiridos eram intimados a denunciar todas as pessoas que estivessem nessa situação e a fornecer informações circunstanciadas sobre a matéria.

«Os Dez de Hollywood» - todos - recusaram responder ao interrogatório.
Foram condenados: oito deles, a penas de onze meses de prisão; os restantes, a penas de seis meses.

Dois casos:

1 - Edward Dmytryk: era membro do Partido Comunista dos EUA.
Após o julgamento conseguiu refugiar-se na Inglaterra, onde, com fracos recursos financeiros, realizou aquele que foi, tanto quanto sei, o primeiro filme abordando a caça às bruxas: «O Preço da Vida» - por muitos considerado a sua obra-prima.
Em 1950 regressou aos EUA, disposto a cumprir os seis meses de prisão a que fora condenado.
Novamente sujeito aos interrogatórios da Comissão, transformou-se num delator, denunciando vários colegas, entre eles 26 camaradas seus.
Depois disso, viu abrirem-se-lhe de par em par as portas da poderosa indústria cinematográfica norte-americana, passando a dispor de orçamentos fabulosos para os seus filmes.
Todavia, Dmytryk perdera o talento e a criatividade revelados nos filmes anteriores.
Era, talvez, a traição a cobrar o seu verdadeiro preço...

2 - Dalton Trumbo: militante comunista. Recusou-se a prestar declarações aos inquisidores e foi condenado a 11 meses de prisão.
Após o cumprimento da pena, alvo de perseguições e ameaças e com todas as portas profissionais fechadas, mudou-se com a família para o México.
Aí escreveu - assinando com pseudónimo ou pedindo a amigos para que assinassem por ele - cerca de trinta argumentos para filmes.
Entre eles os de Spartacus, The Brave One (que viria a ganhar o Óscar para o Melhor Argumento em 1956 - Óscar que, pela primeira e única vez na história do Prémio, não teve ninguém a reclamá-lo: o Autor havia assinado com pseudónimo e estava longe...) e Férias em Roma (também galardoado com o Óscar e que Trumbo só viria a receber, a título póstumo, em 1993).
Em 1973, já a viver nos EUA, escreveu o seu último argumento: o do filme Papillon.
Dalton Trumbo morreu em 1976, em Los Angeles, com 70 anos de idade.
Nunca traíu.
 

Saturday 1 February 2020

A CAÇA ÀS BRUXAS (1)

A COMISSÃO DE ACTIVIDADES ANTI AMERICANAS

Em Agosto de 1945, três meses após a capitulação da Alemanha nazi, os EUA lançaram duas bombas atómicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasáqui - acto que viria a revelar-se como «a primeira grande operação da guerra-fria».
Tal atitude tinha como objectivo essencial «avisar» a União Soviética de que os EUA dispunham de uma arma que poderia reduzir a URSS a cinzas.
Segundo Churchill, «nós tínhamos agora nas mãos qualquer coisa capaz de restabelecer o equilíbrio com os russos (...) e imaginava-se já em vias de liquidar todos os centros industriais soviéticos e todas as zonas com forte concentração populacional.
Churchill via-se como o único detentor dessas bombas, capaz de as lançar onde quisesse, tornado todo-poderoso e em condições de ditar as suas vontades a Stáline» (Lorde Allanbrooke).
E en Fulton onde, em Maio de 1946, pronunciou um célebre discurso - lido por ele mas escrito com a colaboração de Truman, do secretário de Estado James Byrnes e do financeiro Bernard Baruch - Churchil tinha a consciência clara de estar a fazer o primeiro discurso da guerra-fria.

Entretanto: o prestígio da União Soviética - que tivera papel decisivo na derrota do nazi-fascismo - chegava a todo o mundo e atingia níveis elevadíssimos; o ideal comunista ganhava amplas massas populares; na Europa, os países do Leste, libertados pelo Exército Vermelho, faziam a sua opção socialista; logo a seguir a URSS anunciava ter, também, a bomba atómica; em 1949 triunfava a Revolução Chinesa...
O «comunismo avançava». E o grande capital, em pânico, deitava contas à vida...

É neste contexto que nasce e se desenvolve a célebre operação anticomunista e antidemocrática levada a cabo nos EUA, que ficou conhecida por Caça às Bruxas.
Foi no final dos anos 40 que um senador norte-americano - de seu nome Joseph MacCarthy e de sua condição fascista, sádico e psicopata - iniciou uma gigantesca operação de impiedosa caça aos comunistas, alegando que estes eram «antipatriotas» e preparavam «um complot para derrubar o Governo dos EUA e substituí-lo por um governo comunista que acabaria com a liberdade».
Para isso criou e pôs a funcionar uma tal Comissão de Actividades Anti Americanas que viria a celebrizar-se pela sua intolerância e por uma doentia e perversa sanha persecutória e repressiva.
MacCarthy tinha já alguma «experiência» na matéria: eleito senador em 1946, a sua primeira intervenção enquanto tal foi a de propor que o exército fosse mobilizado para pôr termo a uma greve de mineiros - e que os grevistas fossem julgados em tribunal marcial.
O anticomunismo corria nas veias do novo senador...

Ser comunista era, na visão perturbada de MacCarthy, crime grave, mas também o era ser familiar, amigo, vizinho de comunista... - ou, apenas, dar os bons dias a um comunista...
Assim, os «suspeitos» eram aos milhares e os nomes dos «suspeitos» eram lançados na lama pública. Muitos foram os que «desapareceram» ou se «suicidaram» (com ou sem aspas). após receberem a intimação para irem depor perante a sinistra Comissão, ou depois de prestado o depoiamento.
O ambiente de medo generalizado e de histeria, gerava as situações mais degradantes e anti-humanas.
A denúncia - do pai, da mãe, do filho, do irmão, da mulher, do marido, do amigo, do colega... - era enaltecida e apresentada como exemplo maior de «patriotismo».
Milhares de pessoas foram vítimas, em muitos casos tragicamente, da intolerante, sádica e perversa operação da Caça às Bruxas - que se prolongaria até meados da década de 50.