Saturday 24 December 2016
TEMPO DE RUSGAS
IEra tempo de rusgas.
Havia ordens terminantes
mas era preciso não andar desarmado.
A revista nas estradas era intensa.
Bem armado
passei sem licença de porte de arma
minha mão comprimindo no bolso
as coronhas de três poemas.
IIOs que não são poetas
ignoram o que é estarmos em reclusão
armados de conluios até aos dentes.
E na sua imprevidência
não sabem que um poema detido
mesmo de cor na cabeça
também é uma forma
dialéctica
de lhes armar o cerco.
IIISou daquela raça
dos revolucionários mais perfeitos.
A raça dos homens ao natural
que amam o amor sem as mil
fictícias boas maneiras
burguesas.
Raça
dos revolucionários mais puros
no amor à beleza feminina
na adoração pelas crianças
no respeito pela velhice
no ódio à mendicidade.
Raça de revolucionários cheios de defeitos
e apenas uma pequeníssima qualidade:
Mesmo inseridos em molduras de alvenaria
com uma força de segurança no exterior
não compramos o Amor
e não nos vendemos!
José Craveirinha
(In Cela 1)