Cada manhã
recebemos no telégrafo o pão que nos impõem,
o que em agonia mastigamos vigiando
a dolorosa digestão: passará
nas tripas?
Leveda negro este pão da morte
a que não escaparemos
sem destruir esse forno de sombras
onde coze
a incurável ferida que rasgará as entranhas da terra.
Que outra coisa comer se é este o pão
que nos fere a garganta a cada fome
onde quer que estejamos?
O tempo morde-nos os ossos. A tenaz
aperta-nos a voz sob os detritos.
Que casulo protege da farinha
assassina? Saiamos para a luz, Façamos
de toda a pedra bala
antes que o relâmpago irrompa e a música
seja o leve tombar da poeira radioactiva.
Egito Gonçalves