Monday 9 January 2012

Campo de batalha


O poeta caminha, sem destino, desesperado,
vagando o olhar sobre as pilhas de cadáveres
- homens que partiram das suas terras para virem
apodrecer aqui, adubo amontoado.

O poeta escreve sobre os mortos! Recorda
as infâncias tão próximas, as lágrimas na estação,
os beijos da família, o abraço dos amigos,
o comboio enfeitado de flores e de bandeiras.

Estendidos na planície revolvida
nem moscas nem traições os incomodam.
Uma bomba transformou-os em quietude,
as mãos vazias, os amores parados...

Livres da angústia pela morte,
não sofrerão doenças ou velhice.
Haverá missas pela sua alma
e trigo semeado, em breve, neste solo.

Cada um deles esta rígido e perfeito
com direito a um crepe no retrato.
Imperfeita, no conjunto, só a bomba,
mas trabalha-se nela com afinco.


Egito Gonçalves