Saturday 1 February 2014

COMPANHEIRO VASCO


Da memória do 25 de Abril de 1974 - desse tempo novo de povo nas ruas conquistando as liberdades exercendo-as e dando os primeiros passos no caminho do processo que fez da Revolução de Abril o momento de maior modernidade da nossa história colectiva - emerge, límpida e transparente, a figura ímpar de VASCO GONÇALVES, General de Abril, Soldado do Povo, Companheiro Vasco.

Dignidade e verticalidade, coragem e patriotismo, inteligência e cultura, modéstia e vontade de saber, lucidez e coerência: eis alguns dos atributos pessoais que, aliados a uma total e permanente postura solidária e fraterna, fazem do Companheiro Vasco, pela sua vida, pela sua acção, pelo seu exemplo, o mais puro e fiel intérprete dos ideais libertadores e transformadores de Abril e uma figura maior da História de Portugal.

Os quatro governos provisórios de que foi primeiro-ministro - de 18/7/74 a 11/9/75 - corresponderam ao período mais exaltante, inovador, avançado e criativo do processo revolucionário.
Nesse tempo, pela primeira - e, até agora, única - vez, Portugal teve um primeiro-ministro que se identificava totalmente com os interesses e aspirações da classe operária, dos trabalhadores, do povo e do País.

Por ocasião do lançamento, em 1977, do livro Doze Poemas para Vasco Gonçalves, da autoria de «alguns dos maiores nomes da nossa poesia actual», Óscar Lopes perguntava: «Seria fácil imaginar Ramos Rosa, Silva Carvalho ou Eugénio de Andrade, por exemplo, a dedicar um poema a qualquer dos outros responsáveis políticos e militares que depois do 25 de Abril disputaram o poder a Vasco Gonçalves?».
E respondia, naturalmente, pela negativa.

Aqui fica - em homenagem ao Companheiro Vasco - um desses doze poemas.


O COMUM DA TERRA

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esses eras tu: inclinação da água. Na margem
ventos areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade