Thursday 6 February 2014

A longa espera

AINDA UM POEMA...

Ontem, ao final da tarde, recebi uma boa notícia.
Tão boa que me fez voltar aqui para, antes da anunciada pausa, a assinalar devidamente - e não há coisa melhor para o fazer do que um poema...
Aqui fica, então, para o Serioja, meu grande amigo, este belo poema que pedi emprestado ao Armindo Rodrigues e que nos fala da nossa longa espera... - e da certeza de um futuro em que os meninos de hoje, com vozes de alvorada, proclamarão o novo dia...
Porque «a vitória é difícil, mas é nossa».



A LONGA ESPERA

Até onde chegará a nossa
resistência?
Até onde
suportaremos nós,
homens de carne e osso,
a tortura inumana?
Até onde, pacientes,
metódicos,
secretos,
seremos capazes de levar
as nossas palavras
firmes e consoladoras?
Até onde ecoarão elas,
e em que ouvidos?
Até onde teremos de mascarar-nos,
de mentir,
de fingir?
Revolução
porque tardas?
Já escarva o chão,
pronto a investir,
o gigantesco toiro,
de baba espessa,
de olhos chispantes
e frementes músculos.
Já desabrocham cravos
no silêncio contido.
Já as ocultas labaredas
se preparam para desfraldar-se
resgatadoras,
ao vento solto.
Já as multidões,
com a sua ira,
quebram em estilhaços
o lavado cristal do dia atento.
Revolução,
porque tardas?
Desdobra, cotovia amável,
como um harmónio,
a tua alacridade,
sob o frio dos escombros.
Semeia, sol,
a luz e o calor fertilizadores
pelos campos lavrados.
Dai as mãos e anunciai,
trabalhadores de todo o mundo,
o grande recomeço.
Soldados,
quebrai com ímpeto
as vossas armas arrependidas
e pisai-as.
E tu, menino, proclama,
com a tua voz de alvorada,
para além dos teus desejos,
os teus sonhos realizados.


Armindo Rodrigues