É da terra sangrenta terra braço
Terra encharcada em raiva e em suor
Que o homem pouco a pouco passo a passo
Tira a matéria viva do amor.
Como fêmea abrasada de desejo
E aberta ao vento e ao sol concebe as plantas
Mulher e mãe na fúria dum só beijo.
Prendo os meus lábios à sede
Mordido por um fio de água
O Alentejo não cede
Mesmo com olhos de mágoa.
Olhos celeiros do trigo
Semente no coração
Meu trigal de pão amigo
Adubado no meu chão.
Além Tejo além coragem
Com as paredes de cal
És a alma da paisagem
Brancura de Portugal.
Depois de prenha a terra fica linda
Crescem cabelos loiros como o fogo
Laços vermelhos na planície infinda
Papoilas vivas que se acendem logo.
Pois quando a terra for de quem lhe quer
Não há mais dor no parto dos trigais
Será terra feliz terra mulher
Com filhos de quem todos somos pais.
Ary dos Santos