cidades-lágrimas são calor no meio das pedras.
as
gotas da chuva reflectem, cada uma, todo o mundo ao ser redor e,
enquanto a gravidade as vence, reflectem na superfície a paisagem cada
vez mais pequena que, ainda assim, partilha sempre metade de cada uma
com o céu de onde vieram.
até que na terra se desfaçam em mil
outras gotas ou se infiltrem pelos espaços vazios entre os grãos de
areia, siltes ou argilas que convivem com a morte e a vida dos que jazem
e dos que dos que jazem se alimentam. ou que, por vezes, na nossa pele
salpiquem a temperatura das alturas a que pertenciam quando sucumbiram,
por falta de agitação molecular que lhes permitisse vencê-la, à
inexorável força da massa terrestre que as não deixa fugir.
no
dorso do vento frio, que enche os espaços deixados pela baixa pressão, a
memória dos teus lugares preferidos é o sangue do teu calor, da tua
ilha, neste arquipélago onde, ao contrário dos geológicos, cada ilha faz
o seu próprio vulcão.
Miguel Tiago