Sunday 12 April 2020

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Em mim não há repouso nem certeza,
tudo se desfaz num íntimo pudor.
Sou a vela acesa
dos deuses ignotos duma religião menor.

Onde não há substância nem altura
nem sequer vontade de o ser,
o que resta são gestos de loucura
com archotes rendidos a arder.

E o horizonte é perto e sem caminho
e eu marcando a minha posse,
desfeito em fumo e solidão,

cumpro-me patético, sozinho,
como se arder não fosse
apenas combustão.

Carlos Carranca,
IPO, 28 de Julho de 2019