Em mim não há repouso nem certeza,
tudo se desfaz num íntimo pudor.
Sou a vela acesa
dos deuses ignotos duma religião menor.
Onde não há substância nem altura
nem sequer vontade de o ser,
o que resta são gestos de loucura
com archotes rendidos a arder.
E o horizonte é perto e sem caminho
e eu marcando a minha posse,
desfeito em fumo e solidão,
cumpro-me patético, sozinho,
como se arder não fosse
apenas combustão.
Carlos Carranca,
IPO, 28 de Julho de 2019