Friday 24 April 2020

Ao António Ramos


Folha que escuta o vento o som do muro
erguido ao sol da erva nuvem clara
feita o instante verde a pedra rara
sobre o anel do tempo e do futuro.


Boca do ar espuma das palavras
na janela do fogo abelha dura
voando sobre os beijos mão que lavras
na polpa das cerejas a mais pura

morte que se escreve com a mágoa
do medo sobre o rosto a longa asa
rasando os lábios soltos pela água
de quem faz com versos uma casa.

Joaquim Pessoa
in POEMAS DE PERFIL, 1975