Sunday 1 March 2020

«A TERRA A QUEM A TRABALHA!»

9 de Fevereiro de 1975: em Évora, tinha lugar a I Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul, organizada pelo PCP, e em cujos trabalhos e comício de encerramento participaram mais de 30 mil trabalhadores.
Era o primeiro passo dessa caminhada exaltante que foi a construção da Reforma Agrária.

Para trás, ficavam décadas de luta do proletariado agrícola do Sul - luta corajosa e determinada contra o latifúndio opressor e explorador, contra o fascismo. Pela liberdade e pela democracia. Pela Reforma Agrária.

No comício de encerramento da Conferência, Álvaro Cunhal disse:

«Vivemos um momento histórico nos campos do Sul. Pelas mãos dos trabalhadores, a Reforma Agrária deu os primeiros passos. Do Alentejo das terras incultas, das charnecas, dos pousios, do gado raro e miserável, dos baixos rendimentos das culturas; do Alentejo do desemprego, da fome e da miséria, os trabalhadores, com o apoio do Estado democrático, farão um Alentejo com uma agricultura que dará em abundância os produtos de que os trabalhadores e o País necessitam.
A Reforma Agrária surge natural como a própria vida, aparece como resultado da necessidade objectiva de resolver o problema do emprego e da produção, como solução indispensável e única».
E, mais adiante, acrescentava:

«Os latifúndios têm sido e são a miséria, o atraso e a morte.
A entrega da terra a quem a trabalha significa a própria vida, a vida para os trabalhadores desempregados e seus filhos, vida para a agricultura abandonada, sabotada pelos grandes agrários e pelos grandes capitalistas»
.

E assim foi.
Menos de um ano após a Conferência de 9 de Fevereiro, a Reforma Agrária era uma realidade - uma realidade que, para além dos enormes êxitos alcançados em matéria de produção agrícola e pecuária, resolveu o problema do desemprego, da miséria e da fome; realizou uma impressionante obra social e cultural; transformou as relações de produção em relações de cooperação e solidariedade, com a abolição da exploração do homem pelo homem - e por tudo isso, e muito mais, foi, nas certeiras palavras de Álvaro Cunhal,
«a mais bela conquista da Revolução».

Da mesma forma que a construção da Reforma Agrária constituiu o momento mais luminoso desse tempo luminoso que foi a Revolução de Abril, também a sua destruição constituiu o momento mais sombrio deste tempo sombrio que tem sido o tempo da contra-revolução.
Com efeito, a ofensiva contra a Reforma Agrária - iniciada pelo primeiro governo PS/Mário Soares e prosseguida por todos os governos que se lhe seguiram integrando os restantes partidos da política de direita (PPD/PSD e CDS/PP) - foi, em muitos aspectos, um regresso ao passado.
Foi o regresso aos campos do Alentejo e Ribatejo das perseguições, das prisões, dos interrogatórios pidescos, das torturas, dos julgamentos sumários, dos assassinatos.
Foi o regresso do latifúndio - antes sustentáculo do fascismo, agora sustentáculo da contra-revolução.

A Reforma Agrária confirmou ser uma componente indispensável da democracia e do desenvolvimento de Portugal.
Por isso ela é indispensável no futuro democrático de Portugal - nesse futuro pelo qual lutamos todos os dias, combatendo a política de direita ao serviço dos interesses do gande capital, e tendo como objectivo conquistar uma política de esquerda ao serviço dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País.

Por isso, «A TERRA A QUEM A TRABALHA!» é uma palavra de ordem cheia de actualidade - e cheia de futuro.