Os amigos partilham
a sua desgraça
em pedaços iguais.
Cada qual recebe
o mesmo quinhão
de tristeza e bruma
e tudo repartem
os dias perdidos
as noites crispadas
as mortes comuns.
De repente falam
e apertam as mãos
levantam lareiras
desenham viagens
confiam no amor.
E no chão vazio
nascem malmequeres
frágeis como a esperança
(e tão persistentes)
frágeis como a vida
(e tão arraigados).
Obscuras flores
que irrompem do escuro
mas que trazem nelas
o espectro do sol.
Sidónio Muralha
(«Poemas de Abril» - 1974)