Monday 21 August 2017

COSTA MARTINS


Pedro d'Anunciação, no Sol, reportando-se à acção de Costa Martins como ministro do Trabalho dos governos de Vasco Gonçalves, diz que o agora falecido militar de Abril «ficou identificado com o que o gonçalvismo teve de melhor (no seu tempo adoptou o 13º mês de salário) e de pior (a forma pouco democrática com que se fizeram saneamentos e se prucuraram impor as posições comunistas)».
Para começar não está mal: uma no cravo, outra na ferradura - sendo que a da ferradura é, por parte do escriba, a retoma das velhas atoardas inventadas pela reacção e que, hoje, passados 35 anos continuam a ser usadas como se se tratasse de verdades absolutas, incontestáveis e incontestadas.

Logo a seguir, o escriba descobre que «o que o marcou mais negativamente (a Costa Martins) foi a sua campanha de "um dia de salário para a nação", segundo a qual os trabalhadores foram instados, com a pressão dos saneamento sobre eles, a trabalharem no domingo, dia 6 de Outubro, e a entregarem o vencimento desse dia ao Estado».
Ou seja: o escriba volta a pegar na palavra da reacção e dispara-a impiedosamente contra a verdade.

Embalado, acrescenta: «Sintomaticamente, o PCP lamentou agora a morte de Costa Martins, tendo Jerónimo de Sousa salientado que ele ficará ligado "às conquistas sociais do pós-revolução".
Ou seja: sintomaticamente, com este pedaço de prosa manhosa, o escriba mostrou o que valia e ao que vinha...

É claro que quem escreve assim, não poderia esquecer-se de repetir a maior e a mais ignóbil de todas as calúnias lançadas pelas forças da contra-revolução contra Costa Martins - e que serve de mote ao escriba para titular a sua prosa: «Costa Martins - O ministro gonçalvista que tropeçou na justiça».
E, como quem não quer a coisa, mas querendo, tropeçando na calúnia, o escriba escreve: «O deputado socialista António Arnaut garantiu mais tarde no Parlamento haver provas de que o ex-ministro desviara verbas do dia de salário e pediu uma investigação ao assunto».

Ora bem: se o escriba quisesse - mas o escriba não quis... - poderia ter esclarecido desde logo que nem «o deputado socialista» nem ninguém tinha provas desse «desvio de verbas» - pela simples e incontornável razão de que não houve desvio nem de um centavo - como Costa Martins demonstrou inequivocamente.

Se o escriba quisesse - mas o escriba não quis... - poderia ter esclarecido desde logo que foi o próprio Costa Martins - e não «o deputado socialista», o qual lançou a calúnia e com isso se deu por satisfeito - quem obrigou a que tudo fosse esclarecido, numa atitude inédita e raras vezes vista antes ou depois.
E se o escriba quisesse - mas o escriba não quis... - poderia, ainda, incitar os leitores a proceder ao didáctico exercício de comparar a atitude de Costa Martins - tomando ele próprio a iniciativa de obrigar a que tudo fosse esclarecido e mostrando provas concretas da falsidade das acusações de que era alvo - com as atitudes dos que, hoje, se dizem vítimas de calúnias, de cabalas e etc.

A terminar - e cheio de motivos para se sentir satisfeito com a forma como cumpriu a tarefa - o escriba suja-se assim: «Mas a verdade é que a vida deste militar cheio de expedientes deixou realmente algumas sombras».

É MENTIRA: a verdade é que a vida deste militar é um exemplo de dignidade, de verticalidade, de coerência - tudo qualidades cuja existência, ao que parece, o escriba desconhece.