Wednesday 27 July 2016

RENTE AO CHÃO


1. 
Era azul e tinha os olhos de deus,
o meu pequeno persa
- agora rente ao chão onde iria?,
a voz quebrada,
o peso da terra sobre os flancos,
a luz deserta na pupila.

2. 
Chamo por ti; digo o teu nome
tropeçando sílaba
a sílaba; repito o teu nome
para que voltes com a lua
nova, o sol de Março,
o pão de cada dia:
o rigor do frio, a sua teia branca,
por companhia.

Eugénio de Andrade
(«Rente ao Dizer» - 1992)