Friday 1 July 2016

Canção amarga


Descubro em ti a dor que eu próprio invento
A fúria que me bate. A força que me chama.
Amor agreste. A rosa sobre a lama.
Chuva de abril. Anel de sofrimento. 


Descubro em mim o porto aonde moras.
E a tua ausência na cama onde me deito.
Invento a flor mais triste quando choras
e a noite principia no meu leito.

Tu és o linho o beijo a despedida
és o instante a hora a vida inteira
és o meu lume o fogo da lareira
a fúria da razão mesmo vencida.

Eu sou o vinho a raiva ou a loucura
já nem sou nada sou tudo o que quiseres.
Mas onde estás? Onde é que eu te procuro?
Pássaro triste irei onde estiveres.

Ai meu amor meu canto de amargura
morres em mim tão perto de viver!

Joaquim Pessoa