Sunday 1 December 2013

PASOLINI


Por três vezes - com dois poemas do Autor e um fotograma do filme Teorema - o Cravo de Abril recordou essa figura maior da cultura italiana (e europeia) que foi Pier Paolo Pasolini.

Hoje, partilhamos com os nossos visitantes parte da intervenção proferida por Pasolini no comício realizado no Verão de 1974, em Milão, no decorrer da Festa do Unitá (então órgão central do então Partido Comunista Italiano).

«Eis a angústia de um homem da minha geração, que viveu a guerra, os nazis, as SS, de que sofreu um traumatismo nunca totalmente vencido.
Quando vejo à minha volta os jovens que estão perdendo os antigos valores populares e absorvem os novos modelos impostos pelo capitalismo, arriscando assim uma forma de desumanidade, uma forma de afasia atroz, uma brutal ausência de capacidade crítica, uma facciosa passividade, recordo que estas eram precisamente as formas típicas das SS: e vejo assim estender-se sobre as nossas cidades a sombra horrenda da cruz gamada.
Uma visão apocalíptica, certamente, a minha.
Mas se ao lado dela e da angústia que a produz, não existisse em mim, também, um elemento de optimismo, isto é, o pensamento de que existe a possibilidade de lutar contra tudo isto, simplesmente eu não estaria aqui, convosco, a falar».

Fernando Samuel

Comentário no blogue:
Se não se importam, sento-me aqui neste lugar vago desta mesa redonda dirigida por Pasolini - que, há 34 anos, via o desenrolar sombrio das coisas, a sua evolução previsível, os perigos que nos espreitavam... E via o mais importante: com a luta é possível alterar o rumo dessas coisas, e nós estamos cá para lutar sejam quais forem as circunstâncias...

(melhor do que isto, seria se esta mesa redonda não fosse virtual e se concretizasse... sei lá, em casa de um de nós, por exemplo, com uns comes e bebes a participar na conversa: um queijo lá de cima, da Serra, um panito alentejano, um vinho especial ali de Palmela, uns pastéis de Belém, uma Trança de Espinho, etc, etc...)