Monday 9 December 2013

APONTAMENTO PARA UM POEMA EM LAPÃO


Se a civilização do consumo pôs o problema
da falta de espaços verdes
ou da solidão da velhice,
por que é que um presidente de município comunista se sente
na obrigação de resolvê-lo?
De que se trata?
Da aceitação de uma realidade fatal?
E, uma vez que as coisas se apresentam deste modo,
o dever histórico é o de procurar melhorá-las
através do entusiasmo comunista?
O «modelo de desenvolvimento» é
o preconizado pela sociedade capitalista
que está para alcançar a máxima maturidade.
Propor outros modelos de desenvolvimento
significa aceitar o primeiro modelo de desenvolvimento.
Significa querer melhorá-lo,
modificá-lo, corrigi-lo.
Não: é preciso não aceitar tal «modelo de desenvolvimento».
E nem sequer basta rejeitar tal «modelo de desenvolvimento».
É preciso rejeitar o «desenvolvimento».
Este «desenvolvimento»: porque é um desenvolvimento capitalista.
Este parte de princípios não só errados
mas também malditos.
Triunfantes, pressupõem uma sociedade melhor e portanto burguesa.
Os comunistas que aceitem este «desenvolvimento»,
considerando o facto que a industrialização total
e a forma de vida que daí resulta é irreversível,
seriam sem dúvida realistas colaborando,
se a diagnose fosse absolutamente justa e segura.
E, pelo contrário, não é verdade -
e existem já as provas -
que tal «desenvolvimento» deva continuar
como começou.
Há, em vez disso, a possibilidade de uma «regressão».
Cinco anos de «desenvolvimento» tornaram os italianos
um povo de nevróticos idiotas,
cinco anos de miséria podem reconduzi-los
à sua mísera humanidade.
E então -
pelo menos os comunistas -
poderão ter em conta a experiência vivida:
e visto que se deverá voltar ao princípio
com um «desenvolvimento»,
este «desenvolvimento» deverá ser totalmente diferente
do que tem sido.
Coisa diversa do que propor
novos «modelos»
ao «desenvolvimento» tal como ele é agora.

Pier Paolo Pasolini