Friday 3 July 2020

POEMA DA MANHÃ CLARA

O grito das sirenes
rasgou o silêncio da manhã clara...
E foi como se a vida acordasse
na cidade adormecida:
as ruas encheram-se de movimento,
o céu encheu-se de asas
e o rio de velas!

As ruas encheram-se de movimento,
do vai-vem dos que vão para as oficinas,
dos pregões cantados nas esquinas,
do estrépito dos motores...
E nas fábricas,
as máquinas,
monstros de potências adormecidas,
foram arrancadas à sua inércia,
que se desmancha num espreguiçamento,
e se desfaz, depois,
no ritmo acelerado dos volantes.

O céu encheu-se de asas
e o rio de velas...
Nos portos,
atracam os navios vindos de longe,
de todos os horizontes,
entre os guinchos das roldanas
e a vozearia das tripulações à manobra;
e os guindastes giram lentamente
- gigantes de braços de aço
levam e trazem
com ar despreocupado,
os fardos mais pesados
aos porões;
os vapores de hélices potentes
deixam lentamente os cais,
e, manchando o céu
com o fumo pesado das chaminés,
perdem-se no nevoeiro da barra...

O grito das sirenes
rasgou o silêncio da manhã clara...
um ritmo novo
acordou a cidade adormecida.
Ritmo que se grita
nas alavancas que se movem,
nos êmbolos que chocam,
nos martelos que retinem;
ritmo mecânico, compassado,
das hélices dos motores;
ritmo vertiginoso, alucinante,
dominante, dos volantes;
ritmo novo dos corações,
na canção ardente do trabalho!
Ritmo de máquinas,
de alavancas e de braços.
- Ritmo novo da manhã clara!

Joaquim Namorado