Monday 9 December 2019

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ!...


Adriano Moreira vai ser agraciado com o grau de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Mindelo, em Cabo Verde.
A cerimónia decorrerá amanhã na referida Universidade.

Adriano Moreira foi, como estamos lembrados (estaremos?..), «ministro do Ultramar» de Salazar e, enquanto tal, coube-lhe assinar a reabertura do Campo de Concentração do Tarrafal, para onde, desde logo, começaram a ser enviados militantes dos movimentos de libertação das colónias.

Têm razão, por isso, os antigos prisioneiros do Campo de Concentração ao manifestarem o seu repúdio pela cerimónia.
E tem razão o Presidente da Associação Cabo-Verdiana de Ex-Presos Políticos, Pedro Martins, ao considerar a distinção a Adriano Moreira «um insulto»; e ao afirmar que «a distinção é contra tudo o que lutámos para pôr fim ao regime colonial fascista».

Recorde-se que o Campo de Concentração do Tarrafal - que viria a ficar conhecido como Campo da Morte Lenta - foi criado em Abril de 1936 e inaugurado em Setembro do mesmo ano, essencialmente com presos da revolta da Marinha Grande e da revolta dos Marinheiros.
«Quem vem para o Tarrafal vem para morrer» - diziam os directores do Campo, Manuel dos Reis e João da Silva.
«Eu não estou aqui para curar doentes, mas para passar certidões de óbito» - dizia o médico do Campo, Esmeraldo Pais Prata.
Os 340 antifascistas que estiveram presos no Tarrafal somaram aí um total de dois mil anos, onze meses e cinco dias de prisão - e 32 deles, entre os quais o secretário-geral do PCP, Bento Gonçalves, foram friamente assassinados.
Em 1954, graças à luta do povo português e à solidariedade internacional, o fascismo foi forçado a encerrar o Campo, que reabriria em 1961 com patriotas dos movimentos de libertação das colónias portuguesas - desta vez por ordem do ministro Adriano Moreira, que agora vai ser Doutor Honoris Causa, pela Universidade do Mindelo...

As voltas que o mundo dá!...
 
Fernando Samuel
9.12.2011