(Dorme, meu amor, dorme,
o meu coração vela
junto à tua cama.
Nazim Hikmet)
Aqui é a solidão
a noite espessa
do campo;
é a intempérie,
o silêncio
que amparam
a minha arma e o meu sangue
E em tudo isto, meu amor,
estão as tuas coisas
falando-me, risonhas,
como se não te tivesse deixado na cama
nua entre os lençóis,
com um livro nas mãos.
Em pequeno
(não sabes?)
gostava
de ir até ao rio,
deambular
atrás dos animais assustados
medir com um suspiro
as altas copas das árvores
no monte.
Os meus olhos não chegavam
para tantas paisagens de verdor e pureza.
O meu pai
(lembro-me bem)
ensinou-me
que dá forças ao homem
a frescura do orvalho da manhã,
que as estrelas
são amigas
dos namorados e dos pobres.
Talvez
por tanto apego às coisas simples,
nesta noite de Junho
enquanto espero
quem me renda,
sinto-me bem, muito bem.
Às vezes,
no entanto,
domina-me a ansiedade
e ponho-me a cantar
para ti
- quase sem palavras,
quase sem voz -
as ingénuas canções do povo.
Já se aproxima a aurora.
A sua luz pequena
entrará pela gelosia até ao teu sono,
para te abrir as pálpebras
como todos os dias.
Às 8,
de novo,
na fábrica, tu
- miliciana e esposa -
encherás cada instante
de esforços, de beleza e pombas.
(Comove-me
evocar-te
no teu posto, serena,
com a boina ao lado e o teu sorriso
de rapariga que aprende a ser feliz)
Agora,
dorme tranquila.
Não duvides, amor:
eu estou bem,
sobretudo
pensando que descansas e me esperas.
Os teus olhos, as tuas palavras, a tua alegria,
as tuas mãos de manhã.
Adolfo Menéndez Alberdi