Que todos os meus anseios de poeta
possam cair no teu regaço,
velha lutadora, velha analfabeta
que não sabes dos versos que te faço.
Vejo-te de joelhos,
de joelhos e de mãos postas,
de joelhos e de mãos postas num velho esfregão
lavando, lavando casas...
A tua cabeça branca é uma acusação
- passa um poeta - e a acusação tem asas.
Velha que conheceste algumas gerações
e devias ser tratada como os doentes e as crianças
- atira o teu esfregão contra os nossos corações
e grita nos meus versos agudos como lanças.
Sidónio Muralha