Friday 6 May 2016

POEMA OCTOGÉSIMO QUARTO


A manhã rompe-se com o canto dos pássaros e as flores amarelas pedem justiça ao vento, que saiu de casa feliz, para incendiar nos pensamentos a intimidade do dia.
Ganham entusiasmo as minhas mãos, os olhos dizem-me que hoje a felicidade é possível, que é de vida que se alimenta a fogueira do amor.
E eu caminho com a sabedoria das coisas que escolheram apaixonar-se pelo mar, essas coisas simples que procuram tornar ainda mais simples cada minuto, cada gesto, cada beijo.
Amo as coisas simples porque a sua simplicidade é a de carregar o mundo, grávidas que estão da sua nudez, sabendo que a morte não é mais que uma palavra e o amor são todas as palavras, as doces e temíveis palavras que vestem a vida de brocados e de sedas tão macias, tão raras, tão intensas como a simples e profunda memória do cheiro e do sabor que só tem a pele de uma mulher.

Joaquim Pessoa