Os camaradas de Portimão foram ao mar
por sua conta. Chegaram de madrugada
melhor dizendo: de manhã.
Os camaradas meteram o peixe
em grandes selhas. Escamaram,
estriparam, escalaram,
levaram os caldeirões ao lume
sopraram o lume
levantavam as tampas de quando em quando.
Sabiamente cortaram
sardinhas, lulas, polvo, tamboril,
ruivo, raia, safio.
Os camaradas salgaram, temperaram, provaram
de colher na boca, os olhos longe,
à procura do gosto perfeito dos séculos.
Os camaradas traziam os pratos que as companheiras
repartiam ponderadamente
com a ciência das velhas mães.
Os camaradas vieram servir à mesa
deixavam os pratos, levavam as senhas
perguntavam: está bom ou não está, camarada?
Os camaradas ficaram a fazer as contas.
Os camaradas ficaram a arrumar a casa.
Alguns camaradas adormeceram durante o Canto Livre.
Mário Castrim