Saturday 30 August 2014

O Medo


Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.

e a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
as minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.

serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas? 


Manuel António Pina