Saturday 3 May 2014

VEJO-OS PASSAR FUGAZMENTE


Vejo-os passar fugazmente, com difíceis
sorrisos, cheios de palavras inúteis,
que eles vaziaram quase sem reparar,
ao fim duns anos de verem a mesma
cara ao espelho, ao largo de uma revolta
que os sobressaltou há tempos e agora não sabem
o que hão-de fazer dela. Cada vez mais externo,
não há nada deles, apesar dos fatos únicos,
apesar do gesto que ensaiam cada noite
com um desassossego ansioso de primado.
Para quê saber quem são e donde vêm?
Acompanhados de fantasmas e sombras,
satisfatoriamente dotados, tristes objectos
que se forjaram, às cegas marcham
pelos poucos caminhos em que a estrela brilhe.

Francesc Vallverdú