Neste Bairro da Ferrugem
feito com barrotes podres, tábuas bichosas, canas,
roupa estendida onde fulgem
sóis rotos, toalhas, lenços lavados por lágrimas humanas...
Neste Bairro de barracas-armazéns de dores
em que talvez um dia rebente
a desarmonia
de folhas, asas, raízes, frutos, bichos de flores...
Sim, surgirá enfim o paraíso de outra primeira manhã
de um dia qualquer
de primavera
sem serpente
nem maçã,
ma apenas com um homem e uma mulher
à espera
do mundo final
- em que a miséria
deixe de nos unir num sonho igual.
José Gomes Ferreira