Tuesday 27 October 2009

Fénix

Não seriam palavras o meu canto
nem seria assim quieta a minha morte,
se à viva sorte, um mar de desencanto,
não me tivesse adiado certo norte...

E no acto de viver, se a vida canto,
pura, a este coração lúcido e forte
o devo, mas com temor e já quebranto
na carne agora mais perto da morte;

Entre grades não corre qualquer rio,
nem pode a vida florescer sem luto,
se no exílio até o sol é um astro frio...

Mas das cinzas renasço resoluto,
(Meu canto é já sereno desafio):
Se o presente dói, pelo futuro, luto!...

António Cardoso