1
Anda ver os marinheiros
nesta faina do peixe e do patrão.
O meu país de lobos e cordeiros.
Com generais a mais. E um povo capitão.
Anda ver, Chico, meu irmão,
tanto Judas! E só trinta dinheiros.
2
Que festa é esta que estala
por dentro do coração?
É um cravo ou uma bala
que a gente põe na canção?
Que festa é esta, que festa,
que é feita de solidão?
Meu amigo, meu amigo,
tanto mar que nos separa!
Quanto mais loiro é o trigo
mais vermelha é a seara.
Estás comigo. E eu contigo.
Connosco está Victor Jara.
A canção é uma arma.
Se alguém lhe toca, dispara!
3
Ai flores, ai flores do alecrim,
ai flores que te não mando
porque já murcham em mim.
Ai flores, ai flores do alecrim,
por que te queimam a ti,
por que me doem a mim?
Verde ramo. Rubro cravo.
Papoila negra do mando.
Já fui escravo. Livre escravo.
Serei escravo até quando?
Verde canção que cantada
mói por dentro. Dói por fora.
Os cravos da madrugada
morrem aqui. E agora.
Ai flores, ai flores do alecrim,
ai flores que te não mando
porque já murcham em mim.
Ai flores, ai flores do alecrim,
por que te queimam a ti,
por que me doem a mim?
Joaquim Pessoa
(in Amor Combate)