Thursday 1 December 2022

ILHA DE NOME SANTO

 
Terra!
das plantações de cacau de copra de café de coco a perderem-se de vista
que vão morrer numa quebra ritmada
num mar azul como o céu mais gostoso de todo o mundo!

Onde o sol bem amarelo bem redondo incendeia as costas
dos homens das mulheres agitando-lhes os nervos
num cadenciar mágico mas humano: capinar sonhar plantar!

Onde as mulheres que têm os braços mais grossos e mais tortos que ocá
são negras como o café que colhem depois de torrado
trabalham ao lado de seu homem numa ajuda toda de músculos!

Onde os moleques vêem seus pais no ritmo diário
deixando correr gostosamente pelo queixo quente
o sabor e a seiva húmida do sàfu maduro!

Onde nas noites estreladas
e uma lua redonda como um fruto
os negros as sangués os moleques os caçô
- mesmo o branco e a sua mulata -
vêm no socopé de uma sinhá
ouvir um malandro tocando no violão
cantando ao violão!

E o som fica ecoando pelo mar...

Onde apesar da pólvora que o branco trouxe num navio escuro
onde apesar da espada e duma bandeira multicor
dizerem poder dizerem força dizerem império branco
é terra de homens cantando vida que os brancos jamais souberam
é terra do sàfu do socopé da mulata
- ui! fetiche di branco! -
é terra do negro leal e forte e valente que nenhum outro!


Francisco José Tenreiro

(«Ilha de Nome Santo»)