estou certo de que ali à beira da livraria do Mondego ainda para lá se
vendiam morangos, maçãs e laranjas, mas um ano sobre a passagem referida
faz-me assumir e esperar que sejam já outros. o frio substituiu a
revolta da chuva e do vento e congelou-nos a respiração que agora se
prende na garganta como aqueles nós que nos ficam nos momentos de
embargo. tal é a temperatura e o inverno.
e vem-se por ali abaixo, por entre as montanhas, cortando o ar com um
gume motorizado e jamais se adivinha o que vem a seguir, apesar de ter
feito já tantas vezes a mesma estrada. nunca contes com um livro escrito
na vida. a noite passada, viraste as páginas ímpares sem te dares conta
das pares.
nessa livraria grande que orla o rio maior, desfolhas o passado e
aguardas o futuro. mas não, mas nunca, como o peixe que fica na torrente
sem nadar.
Miguel Tiago