Saturday 6 July 2019

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Quando chegar o dia de assombrar a casa
dos versos que deixei por escrever,
todos dirão algo de belo e inconsistente :
contarão estórias aos filhos e aos netos
a propósito duma árvore, duma erva de cheiro,
duma flor - aquela! Da mansidão do meu pinheiro gigante, das três oliveiras irmãs,
do gato vadio que me pulava para o colo
e se sentava entre os livros e sussurrava poemas
e eu a tentar decifrá-los sem que ninguém suspeitasse.
E falarão da tília que cinge de paz e de mel
os odores do mês de de Junho.
E desta magia do sol filtrado
pelos bagos negros das uvas pintando na latada
onde crescem como testículos, os kiwis.
E talvez de poesia e sua natureza.


Carlos Carranca