Wednesday 18 October 2017

PARA O MEU TIO


Para o meu tio, que era anarquista,
e que não me deixaram conhecer
porque morreu doente no exílio.

Para o meu pai, que não era de nenhum partido,
nem percebia muito disso,
mas que lutou como voluntário na guerra,
apesar de ver que a perdíamos.

Para o pai do meu cunhado, que figura
na grande lista dos desaparecidos
pelos caminhos que levavam a França.

Para todos os que morreram
com uma bala na frente
nas trincheiras.

Para todos os que morreram na areia
dos campos de concentração franceses.

Para todos os que morreram de fome
nos campos de extermínio alemães.

Para todos os que nunca figuraram
nas listas dos martirizados.

Para todos os que lutaram
para que nós não conhecêssemos
o mundo onde tivemos de nascer.

Para todos vós,
mortos e vivos,
homens e mulheres,
cobardes e valentes.

Para todos vós,
eu, filho da derrota,
envio
toda a minha gratidão,
admiração e respeito.


Enric Larreuela