Friday 1 April 2016

A Menina


Sou eu que bato às portas,
às portas, umas após outras.
Sou invisível aos vossos olhos.
Os mortos são invisíveis.

Morta em Hiroxima
há mais de dez anos,
sou uma menina de
sete anos.
As crianças mortas não crescem.

Primeiro arderam os meus cabelos,
também os olhos arderam, ficaram calcinados.
Num instante fiquei reduzida a um punhado de cinzas
que se espalharam
ao vento.

No que diz respeito
a mim,
nada vos imploro:
não podia comer nem sequer bombons,
a criança que ardeu como papel.
Bato à vossa porta, tio, tia:
uma assinatura. Não matem as crianças
e
deixem-nas também
comer bombons.

Nazim Hikmet