Saturday 1 November 2014

Ir e vir


O vento hoje sopra do Norte
Como sabem se chama Nortada
Mas não sabem que no mar alto
Vento e geada cortam à facada
Risca a cara e de que maneira
Risca tudo que encontra na frente
Vai o barco cheiinho de gente
Vai o barco chamado traineira

ir e vir ao mar...

Chegado ao mar alto, lá fora da costa
Deita ao mar chalandra e chalandreiro
Pega numa ponta da rede e a traineira
Dá volta inteira
Peixe vivo fica lá no meio, fica tudo cheio
De peixe miúdo, de peixe graúdo
E de esforço, de suor
De trabalho d'um raio,
R'ais parta a vida do pescador

Puxa a rede alador...

Fica a traineira bem carregadinha
De faneca, carapau e sardinha
Vira o leme já o sol vai alto
Já as mulheres estão em sobressalto
Chega à costa e vende-se o peixe
E não há nada que a fábrica deixe
E as conservas vão p'ró estrangeiro
É negócio, é negócio rijo
Mas a vida do pescador é sem descanso
E sem dinheiro

Sem descanso e sem dinheiro...

Isto assim é que não está certo
A gente assim não pode viver
A gente nem ganha p'ra comer
Nem tem descanso
O mar enrola a areia
E nos andam a enrolar
Calma aí seu gatuno ladrão, seu armador
Porque vai é parar tudo
Nós vamos é já p'ra greve
E não há ninguém que nos leve

A greve é nossa arma...


João Loio