Friday 18 July 2014

Ponho o acento mais grave na palavra Esperança


o acento mais grave ponho-o na palavra Esperança
escutai toda a extensão de caminho que ela traz consigo:
mas dos pés quotidianos não limpem a lama dos dias quanta
[houver e há tanta
nem tapem a boca ao tumulto os punhos nos ouvidos feitos
[surdos
ao coração - esse podem deixá-lo pesado se o estiver e como
mas espantem o sono dos olhos já pisados de sonho por demais
e cuspam fora o sarro do tédio o não importa o é sabido e basta
em cada palavra um grito em cada grito a vida - esse é
[o estrume

desta flor íntima e pública que vos digo e não é fácil
não é fácil que a flor brota da aspereza e do nojo
e da fome e da sede dos seios secos e dos ventres grávidos
e dos olhos enxutos e das pedras em pranto
ah! quanto suor trabalhoso e quanto mais se exige
Escutai toda a extensão de caminho que ela traz consigo:
Desdobra-se o passo caiem horizontes e tão só desponta
Nesta noite de amargura e séculos
Com o rosto sereno dos mortos que sabiam
E das crianças nascendo que saberão um dia
O quanto ele custa - sangue azul de angústia
O quanto ele vale - nosso pão plural

não não é fácil a flor das raízes aos ramos a seiva sem
[enganos
a vida que vem de traz e continua
nos pés que se movem inexoravelmente
para a Manhã que vem vindo porque vamos
- em cada palavra um passo em cada passo a vida:
ponho o acento mais grave na palavra Esperança!


Carlos Aboim Inglês