Thursday 24 April 2014
Três retratos à la minuta
O BURGUÊS
A gravata de fibra como corda
amarrada à camisa mal suada
um estômago senil que só engorda
arrotando riqueza acumulada.
Uma espécie de polvo com açorda
de comida cem vezes mastigada
de cadeira de braços baixa e gorda
de cómoda com perna torneada.
Um baú de tolice. Uma chatice
com sorriso passado a purpurina
e olhos de pargo olhando de revés.
Para dizer quem é basta o que disse
é uma besta humana que rumina
é um filho da puta é um burguês.
O BOMBISTA
Flamejante auriflama incendiada
patriótica face entumecida
com dentes de coroa cariada
e alma nacional - apodrecida.
Galões de oficial. Na face armada
um sorriso de arcanjo genocida
mais os comendadores da comendada
comandita que nos comanda a vida.
Olhar alarve mas não inocente
na mão aberta a palma democrata
na mão escondida a saudação fascista.
É fácil perceber que nem é gente
é um simples piolho que se cata
é um filho da puta é um bombista.
A BRUXA
As tetas são balofas almofadas
recheadas de esterco e de patranhas
da boca fogem bichas torturadas
pelo próprio veneno das entranhas.
As pernas são varizes sustentadas
pela putrefacção das bastas banhas
os olhos duas ratas esfomeadas
e as mãos peludas tal como as aranhas.
Nasce do estrume e vive para o estrume
a língua peçonhenta larga fel
e é uma corda que ela-própria-puxa.
Sai-lhe da boca pus e azedume
tem pústulas espalhadas pela pele
é filha de si própria. É uma bruxa.