Thursday 21 November 2013

23/6/1958

No dia 23 de Junho de 1958, cerca de trezentos operários agrícolas concentraram-se junto à Câmara Municipal de Montemor-o-Novo.
Tinham iniciado nesse dia uma greve que, para além da exigência de melhores salários, era um protesto assumido contra a fraude eleitoral que havia roubado a vitória ao candidato antifascista general Humberto Delgado nas «eleições» de 8 de Junho desse ano.

José Adelino dos Santos, operário agrícola de 46 anos de idade, era um dos presentes.
Numa altura em que falava com outros trabalhadores, de costas para o edifício da Câmara, foi atingido por um tiro, disparado do interior do edifício, e assassinado.
Não foi um tiro de acaso: foi um tiro dirigido: dirigido a José Adelino dos Santos.
Porquê a ele?

Militante do PCP desde o início dos anos 40, José Adelino dos Santos teve um papel destacado no desenvolvimento da organização do PCP no Concelho de Montemor-o-Novo. Ele era, desde a sua juventude, um corajoso lutador antifascista, um organizador da luta de todos os dias pela democracia, pela liberdade, pela justiça social.
Por isso, e pela sua postura fraterna e solidária, era altamente prestigiado junto dos seus companheiros de trabalho - e por tudo isso, ele era também um alvo permanente da PIDE.
Foi preso pela primeira vez, em 1945; e, pela segunda, em 1949 - e de ambas as vezes barbaramente torturado. Cumpriu um total de três anos de prisão.
Estas as razões pelas quais, naquele dia 23 de Junho de 1958 aquele tiro mortal foi dirigido José Adelino dos Santos.

Uma multidão de cinco mil pessoas - que a PIDE e a GNR tentaram inutilmente impedir de entrar no cemitério - acompanhou o corpo do militante comunista à sua última morada.

Hoje, precisamente no local onde, há 50 anos, foi assassinado pelo fascismo, José Adelino dos Santos foi homenageado pelos seus camaradas e amigos - uma homenagem que foi, ao mesmo tempo, a afirmação do compromisso de continuar a luta por ele travada: pela democracia, pela liberdade, pela justiça social, pelo socialismo e pelo comunismo.

Fernando Samuel