Sunday 27 October 2013

O SONÂMBULO E O OUTRO


Durante a noite não pregou olho.
Seguia os passos do sonâmbulo sobre o tecto.
Cada passo, pesado e ôco,
ressoava infindamente num canto
vazio de si próprio.
Fica à janela, esperando
apará-lo nos braços, se viesse a cair.
Mas se o outro o arrastasse na queda?
Era a sombra de um pássaro na parede?
Uma estrela? Era o outro? As suas mãos?


Ouviu-se um baque surdo no pavimento.
Amanhecia.
Abriram-se janelas. Os vizinhos acorreram.
O sonâmbulo descia rapidamente
as escadas de serviço
para acudir àquele que tombara da janela.

Yannis Ritsos