Tuesday 18 June 2013
DRAMA
A quem falo no mundo? Por quem foi
esta bandeira branca de poeta?
A quem descubro a chaga que me rói
por não ser seu artista e seu profeta?
A quem arranco com beleza a seta
do calcanhar humano que lhe dói?
A quem vejo chegado à sua meta,
novo senhor da terra e novo herói?
A nenhum homem, que a nenhum conheço.
Água de um rio que não tem começo,
nas duas margens sinto o mesmo não.
Mas na direita a vida é gasta e velha...
Só na outra uma chama se avermelha
capaz de me aquecer o coração.
Miguel Torga